A Renault recuperou uma tecnologia esquecida, as quatro rodas direccionais, e transformou o pacato Laguna num sério caso de eficácia.
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A terceira geração do Laguna não desperta, convenhamos, grandes paixões pelo design. Olhando esta carrinha, quer por fora, quer no interior, sente-se falta de …chama. Ainda assim, nesta versão GT, alguns detalhes ajudam a criar um clima mais «quente» – jantes de 18’’, capas negras brilhantes nos retrovisores, ópticas dianteiras com fundo escuro, e pequenas/falsas entradas de ar nas laterais do pára-choques dianteiro.
No interior, os revestimentos em couro e alcântara, o volante com a base «cortada», os pedais em alumínio e a alavanca da caixa mais curta, ajudam a criar ambiente desportivo. O habitáculo desta terceira geração Laguna, é acolhedor, prático, e usa materiais e revestimentos de qualidade. Nota negativa, no modelo cedido à TSF, para uma teimosa cortina do tecto de abrir, que insistia em abrir com grande estrondo, ao mínimo sobressalto na estrada.
A Laguna Break tem espaço de sobra nos lugares dianteiros, mas não é referência nas quotas reservadas aos passageiros do banco traseiro. A bagageira oferece 508 litros de capacidade, o que está na média do segmento.
Esta carrinha «espevitada» usa sob o capot um 2.0l turbo a gasolina, que debita 205 cv às 5000 rpm, atingindo o binário máximo de 300 Nm às 3000 rpm. Trata-se de mecânica herdada do Mégane RS, revista para este Laguna GT. A sonoridade é discreta, nada desportiva, e o motor acorda tarde – só para lá das 2500/3000 é que começa a respirar a plenos pulmões. A caixa de 6 velocidades, com relações algo longas, não ajuda a temperamento mais aguerrido, e também não consegue disfarçar a sede deste 4 cilindros. A Renault anuncia um consumo misto de 8,3 l/100 km, valor francamente optimista, nunca atingido durante os dias ao volante desta Laguna Break. A marca francesa garante ainda uma velocidade máxima de 227 km/h, e 8 segundos dos 0-100 km/h.
Para ajudar à festa, a Renault decidiu retirar do esquecimento uma tecnologia que esteve na moda durante o final dos anos 80 do século passado - as quatro rodas direccionais. Marcas como a Toyota, a Nissan, e a Honda, usaram eixos traseiros direccionais para garantir melhor comportamento, e maior segurança. O recurso técnico acabou por «passar à história», com a entrada em cena das ajudas electrónicas à condução. Agora, a marca francesa chama-lhe Active Drive, e usa um motor eléctrico para girar as rodas do eixo traseiro. Até 60 km/h, as rodas de trás viram em sentido oposto às da frente, o que ajuda a reduzir o ângulo de viragem, e contribui para maior agilidade em traçados sinuosos. Para lá dos 60 km/h, as rodas traseiras giram no mesmo sentido das dianteiras, aumentando a estabilidade em curvas rápidas.
O sistema Active Drive transforma a Laguna Break numa devoradora de curvas, com uma eficácia surpreendente. As quatro rodas direccionais garantem uma resposta tão imediata aos movimentos do volante, que é preciso algum período de habituação. Apenas a suspensão, pouco firme e dando prioridade ao conforto, perturba o carácter desportivo desta Laguna GT.
Esta versão é proposta por 44.000€, o que dá direito a uma lista de equipamento de série muito bem recheada. A Laguna GT cedida à TSF tinha ainda, como opcionais, o tecto de abrir panorâmico (882€), e os bancos dianteiros eléctricos e aquecidos (743€). Pelo mesmo preço, a Renault vende uma Laguna Break com o 2.0 dCi de 180cv. Perdem-se alguns cavalos, mas ganha-se no binário e nos consumos, bem mais racionais.