
A Ford entra em estilo no segmento que mais tem crescido na Europa, e propõe um C-Max com maior liberdade de movimentos, de calças arregaçadas e botas de montanha.
Nestes tempos em que até parece mal não ter um SUV na ementa, a Ford decidiu esticar e alargar a plataforma do Focus e do C-Max, para criar um 4x4 agradável de conduzir, seguro, e capaz de algumas (pequenas) aventuras fora do asfalto.
Por fora, o trabalho dos estilistas da Ford resultou num SUV de traços agressivos, imagem elogiada vezes sem conta durante este ensaio. No interior, a Ford não inova, e recorre a soluções usadas no C-Max. A oferta de espaço agrada nos lugares dianteiros, mas desilude na traseira e na bagageira, que oferece apenas 360 litros de capacidade. Quanto aos materiais, a parte superior do tablier e os tecidos/pele, que revestem estofos e portas, são de bom nível, mas a consola central e os plásticos das zonas inferiores, são rígidos e desagradáveis ao toque. Na unidade testada pela TSF, com pouco mais de 1.300 km (necessariamente duros, porque nas mãos da imprensa), ouviam-se já alguns queixumes (ruídos parasitas) em pisos mais degradados. Ainda no interior, nota positiva para os bancos dianteiros, com excelente apoio lateral, e para a posição de condução.
Uma das vantagens do Kuga reside no ADN da plataforma herdada do Focus/C-Max, aqui com vias mais largas, maior distância entre eixos, e afinações diferentes na suspensão. O centro de gravidade mais alto, o peso mais elevado, e a suspensão adaptada a eventuais saídas para fora de estrada, não alteram muito o bom comportamento no asfalto, ainda que o Kuga apresente algum rolamento da carroçaria em curva. A direcção é precisa, e o carácter incisivo dos irmãos de plataforma mantém-se. O Kuga digere bem as irregularidades do piso, o que ajuda ao conforto. Ainda assim, nota negativa para alguns ruídos aerodinâmicos a alta velocidade.
Para conseguir tracção em todas as rodas, o Kuga recorre ao sistema Haldex. Uma embraiagem multidiscos, de comando electrónico e funcionamento automático – sem qualquer interferência do condutor –, que pode transferir até 50% de binário para o eixo traseiro, em caso de dificuldade. Apesar das limitações, o sistema permite a transposição de pequenos obstáculos, e o Kuga mostra-se à vontade em estradões de terra batida.
O Kuga é proposto com motorização única – o conhecido 2.0 TDCi de 136 cv. A Ford anuncia 180 km/h de velocidade máxima, 10,7 segundos para chegar aos 100 km/h, e um consumo misto de 6,4 l/100 km, um valor talvez demasiado optimista. Durante estes dias ao volante do Kuga, o computador de bordo anunciou sempre valores acima dos 9 l/100 km.
Este 2.0 TDCi é responsável pelo melhor, e pelo pior do Kuga. Enquanto, por um lado, é responsável por uma condução despreocupada, por outro eleva o preço do SUV da Ford para níveis pouco recomendáveis, com os cumprimentos do fisco. Nesta versão, a Titanium (topo da gama), o Kuga surge bem equipado, mas custa 42.365€. Valor superior, por exemplo, à versão de entrada do VW Tiguan 2.0 TDI, ou à versão de topo do Nissan Qashqai 2.0 dCi; por valores semelhantes, estão ainda disponíveis, o Chevrolet Captiva, ou o Honda CR-V.
O Kuga 2.0 TDCi Titanium oferece uma extensa lista de equipamento de série, com destaque para: airbags frontais, laterais e de cortina; ESP; ar condicionado, limpa pára-brisas e faróis automáticos; cruise control; jantes de liga leve de 17’’; e mesas nas costas dos bancos dianteiros.
A versão cedida à TSF estava equipada com alguns extras, como a pintura metalizada (300€); sistema de som Sony (160€); pack fumador (10€); sistema Bluetooth com controlo por voz em português (330€); pack conforto – retrovisores exteriores aquecidos e rebatíveis, sistema de ajuda o estacionamento à frente e atrás, e sistema de chave inteligente (750€); e ainda o pack estilo – barras prateadas no tejadilho e vidros escurecidos (125€). Feitas as contas, o preço final da versão ensaiada, é de 44.040€.
O preço é o grande inimigo deste SUV no mercado nacional, o que leva a uma pergunta final – porque é que a Ford teima em não instalar o 1.6 TDCi neste Kuga?