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O rápido aquecimento do Ártico pode causar a propagação de resíduos nucleares, vírus desconhecidos e bactérias resistentes aos antibióticos. A conclusão é de um relatório publicado na revista científica Nature, que mostra que os potenciais resíduos radioativos dos submarinos e reatores nucleares da Guerra Fria podem ser libertados à medida que o gelo derrete.
O coautor do estudo, Arwyn Edwards, da Universidade de Aberystwyth, explica, em declarações citadas pela BBC News, que apesar de o Ártico ser conhecido por abrigar uma quantidade diversificada de compostos químicos, grande parte desta zona do planeta ainda está por desbravar.
O degelo do permafrost, ou solo permanentemente congelado, tem sido amplamente considerado como um fator que contribui para as emissões de gases com efeito de estufa, uma vez que são libertadas para a atmosfera grandes quantidades de dióxido de carbono ou metano, causando mudanças na paisagem.
Contudo, as implicações podem ser ainda mais graves. Este novo estudo revela que o degelo no Ártico pode levar à libertação de resíduos nucleares e radiação, vírus desconhecidos e outros produtos químicos preocupantes. O aumento dos fluxos de água ajuda à sua ampla dispersão, o que leva não só à danificação de espécies animais e de aves, mas também à sua entrada na cadeia alimentar humana.
"O degelo do permafrost ameaça libertar materiais biológicos, químicos e radioativos que foram isolados há dezenas ou centenas de milhares de anos. À medida que esses constituintes entram novamente no meio ambiente, eles têm o potencial de interromper a função do ecossistema, reduzir as populações de vida selvagem única do Ártico e colocar em risco a saúde humana", refere a investigação.
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Arwyn Edwards afirma que "as mudanças no clima e na ecologia do Ártico vão influenciar todas as partes do planeta, uma vez que alimentam o carbono de volta à atmosfera e elevam o nível do mar".
"Esta investigação identifica outros riscos que podem surgir com o aquecimento do Ártico. Há muito que é um congelador para uma série de coisas nocivas, e não apenas gases com efeito de estufa. Precisamos de estudar melhor o destino destes micróbios, poluentes nocivos e materiais nucleares para compreender corretamente as ameaças que podem representar", explica.
O cientista sublinha ainda que é fundamental tomar medidas na cimeira COP26 do próximo mês. "Além de cumprir os objetivos do Acordo de Paris e reduzir o aumento da temperatura climática global para 1,5 ºC, é necessário um compromisso forte e imediato para financiar a investigação nesta área", considera.
Entre 1955 e 1990, a União Soviética realizou 130 testes de armas nucleares na atmosfera perto do arquipélago de Novaya Zemlya, ao largo da costa do noroeste da Rússia, no oceano Ártico. Os testes utilizaram 224 engenhos explosivos, libertando cerca de 265 megatoneladas de energia nuclear. Mais de 100 submarinos nucleares desativados foram afundados nos mares próximos de Kara e Barents.
Apesar de o governo russo ter lançado um plano estratégico de limpeza, o estudo demonstra que a área foi altamente testada com substâncias radioativas, como o césio e o plutónio, entre sedimentos submarinos, vegetação e camadas de gelo.