"Envia-os de volta para Nova Iorque." Como Trump quis despedir a filha e o genro
A revelação é feita num livro sobre a administração norte-americana. "Kushner, Inc.: Ganância. Ambição. Corrupção" é publicado na próxima semana nos Estados Unidos.
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Detalhes do livro escrito pela jornalista de investigação Vicky Ward têm sido revelados pelos órgãos de comunicação de língua inglesa.
A editora britânica do HuffPost e colunista do London Evening Standart quis contar a história da subida ao poder de Jared e Ivanka - genro e filha do Presidente dos Estados Unidos. Na página que mantém na internet, Ward diz que este é o primeiro livro explosivo sobre Javankan, nome pelo qual o casal se tornou conhecido.
A jornalista alega que o casal criou o mito de que é a voz da razão numa presidência louca, quando na verdade é o principal facilitador do chefe de Estado. Ward adianta que, tal como Donald, Ivanka e Jared mostram um enorme desdém pelas regras e pela ética, e a combinação de ignorância, arrogância e insaciável desejo de poder já causou estragos e ameaça a democracia dos Estados Unidos.
Vicky Ward diz que Ivanka e Jared são o produto de dois pais dominadores - um demasiado envolvido com o filho, o outro desprendido da filha - que chegaram de forma infame ao poder.
O livro relata vários episódios que, de acordo com diversas fontes ouvidas pela autora, tiveram lugar na Casa Branca. O New York Times, que já teve acesso à obra, escreve que pouco depois de assumir funções, Donald Trump quis despedir a filha e o genro. O Presidente terá dito ao chefe de gabinete John Kelly: "Vê-te livre dos meus filhos. Envia-os de volta para Nova Iorque." A decisão não foi avante porque, na altura, houve várias demissões e despedimentos na administração e Trump precisou de pessoas de confiança ao lado dele.
O livro revela ainda que Ivanka pedia frequentemente para viajar nos aviões da Força Aérea, mesmo quando isso não era apropriado. O então secretário de Estado, Rex Tillerson, negou vários pedidos e o casal convidava alguém do Governo, muitas vezes o secretário do Tesouro, Steven Munchin, para contornar a ordem ter acesso a um avião. As viagens não eram o único motivo de discórdia com Tillerson.
O jornal Guardian conta que o antigo secretário de Estado culpou Kushner pelo facto de, repentinamente, Trump ter apoiado o bloqueio e a campanha diplomática decretada pela Arábia Saudita contra o Qatar. O responsável pela politica externa estava preocupado com as tropas americanas estacionadas no Quatar. Segundo um assessor não identificado, Tillerson terá dito a Kushner que sua interferência colocou em perigo os militares dos EUA.
O jornal britânico revela ainda um outro episódio revelador descrito no livro. Gary Cohn, antigo conselheiro económico de Trump, repreendeu Kushner depois de ter sido tornado público que ele tinha jantado com executivos de uma empresa financeira chinesa, que estavam a pensar investir numa torre da família Kushner em Manhattan. "É maluco?", perguntou Cohn a Jared à frente de outras pessoas, chamando a atenção para o facto de os negócios privados terem de ficar à porta da Casa Branca.
O prédio na 666 Fifth Avenue deu problemas desde que as empresas Kushner o compraram por quase 2 mil milhões de euros, em 2007. As empresas da família do genro do Presidente norte-americano estavam, na altura, a tentar pagar uma divida de 1 milhão e 400 mil euros relacionada com o imóvel.
Quanto à filha Ivanka, o livro denuncia que interferiu em diversos telefonemas entre o pai e dignitários estrangeiros, apesar de a família ter interesses comerciais nos países envolvidos. Um dos exemplos dados é um telefonema entre Trump e um líder indiano. Ivanka desfez-se em gentilezas durante a conversa do pai e Ward lembra que a organização Trump tem várias torres residenciais na Índia.
Por fim, o livro retrata Kushner e Ivanka como duas pessoas implacavelmente ambiciosas, odiadas por todos os que com eles trabalham. Ward relata que há funcionários da Casa Branca que gozam com Kushner, chamando-lhe "secretário de tudo". A equipa de Ivanka é tratada como HABI - home of all bad ideas, que pode ser traduzido como a casa de todas as más ideias.
Mesmo antes das publicação deste livro, a porta-voz da Casa Branca já anunciava que vinha aí um novo caso de fake news. O porta-voz do advogado de Jared Kushner recusou todas as acusações feitas, considerando que este é um livro de ficção.
Alguns dos jornalistas que já leram "Kushner, Inc.: Greed, Ambition, Corruption" consideram que diversas acusações feitas por Vicky Ward estão pouco substanciadas. Apontam também para o facto de a grande maioria das 200 pessoas entrevistadas terem falado sob a capa do anonimato. É também criticada a descrição de situações que os entrevistados não presenciaram, mas ouviram falar.