Espancamento do ministro dos transportes põe em causa processo eleitoral na Guiné-Bissau
O espancamento do ministro dos transportes e comunicações da Guiné-Bissau, Orlando Viegas veio perturbar gravemente a preparação do processo eleitoral para as legislativas daquele país, que chegaram a estar previstas para Março próximo.
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O Partido da Renovação Social (PRS), de que aquele governante é vice-presidente, ameaça abandonar o governo de transição, pondo assim em causa a data das eleições gerais, já adiadas por três vezes.
Uma comissão de inquérito, constituída por três magistrados do Ministério Público, e em articulação com a Polícia Judiciária e a Guarda Nacional, está a investigar o espancamento de que foi vítima Orlando Viegas, na sua própria casa, ao início da noite de terça-feira. Refugiado na sede das Nações Unidas em Bissau, onde inicialmente recebeu assistência médica, o governante guineense foi hoje transferido para o hospital de Dacar, devido à gravidade dos ferimentos.
«Enquanto Procurador-Geral da República estou muito , muito preocupado com o estado de saúde do ministro de Estado da Guiné-Bissau na situação em que o encontrei», afirmou Adbdu Mané, que determinou a constituição da comissão de inquérito encarregada de investigar com urgência o atentado em que participaram, segundo fonte governamental, cerca de uma dezena de homens armados, encapuçados e fardados com uniformes militares.
Num comunicado tornado público, o PRS, partido fundado pelo ex-presidente guineense Kumba Ialá, responsabiliza os órgãos de transição «pela manifesta ausência de segurança» no país, apontando para a atuação de um «grupo de pessoas incontroláveis que tenta semear o pânico e o terror».
Por sua turno, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), também em comunicado de imprensa condenou a agressão de Orlando Viegas, recordando que «não é o primeiro espancamento de civis nos últimos tempos, mas este ultrapassa todos os limites. É perfeitamente intolerável que um membro do governo seja vítima de tais sevícias.» (...) «É urgente por cobro» a tais práticas para que as eleições gerais possam decorrer num clima de tranquilidade, considera o PAIGC.
Liga dos Direitos Humanas denuncia «espiral de violência»
Também a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) condenou o espancamento, que «evidencia de forma inequívoca a espiral de violência e insegurança generalizada»" na Guiné-Bissau. Segundo a LGDH a situação gera «enorme preocupação», face à «deterioração da situação de segurança no país, marcada pela crescente propagação de ondas de violência gratuita, num período extremamente sensível e conturbado».
Já o Movimento da Sociedade Civil, que agrega diversas entidades guineenses, pede a demissão do ministro do interior do governo de transição, «pela incapacidade de garantir segurança aos cidadãos. No mesmo comunicado, o organismo responsabiliza ainda a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) «pelos sucessivos abusos e violação dos direitos humanos», em vez de cumprir o objetivo de «assegurar o normal funcionamento das instituições do Estado e garantir segurança».
Recorde-se que o atual período de transição que se vive no país decorre do golpe militar de 12 de abril de 2012, tendo então sido constituído um governo de coligação chefiado por Rui Duarte Barros, e a empossado Serifo Nhamadjo como Presidente da República de transição.