O Presidente do Zimbabué, no poder desde 1980, completa hoje 91 anos, com uma nova polémica em torno dos custos dos festejos. A mega festa terá várias iniciativas e uma ementa que inclui dois elefantes, dois búfalos, cinco impalas e dois antílopes negros.
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O homem que afirma que vai viver até aos 100 anos desmentiu, até agora, todos os rumores sobre o seu estado de saúde, depois de várias vezes o terem dado como moribundo, padecendo nomeadamente de cancro, ou a eventual intenção de passar o testemunho do poder.
A Constituição zimbabueana permite-lhe teoricamente manter-se no poder até aos 99 anos.
«Não sei como é que vivi tanto tempo. É a vontade de Deus», diz este católico praticante, o mais velho chefe de Estado africano, que dirige o seu país com mão de ferro e foi regularmente reeleito em escrutínios ensombrados por violência e fraudes.
Pelo seu 91.º aniversário, o Zimbabué oferecer-lhe-á mais uma vez uma festa grandiosa, a 28 de fevereiro, uma semana após a data do seu nascimento, para indignação da oposição.
«Todo o dinheiro recolhido para esta reunião obscena deveria ser imediatamente doado para a reabilitação dos hospitais públicos na ruína, clínicas e escolas rurais da província do Matabeleland do Norte», declarou Obert Gutu, porta-voz do Movimento para a Mudança Democrática (MDC).
Gutu sugeriu também que os pratos previstos para servir aos convidados no banquete de aniversário sejam distribuídos pelos orfanatos e instituições de solidariedade da região. Dois elefantes, dois búfalos, cinco impalas e dois antílopes negros constam da ementa do festim.
Antes disso, haverá um megaconcerto na capital, Harare, para dar início às comemorações.
Atualmente rejeitado por parte da comunidade internacional e considerado um ditador pelos seus opositores, Mugabe começou por ser visto como alguém a quem se vaticinava um futuro comparável ao de Nelson Mandela na vizinha África do Sul.
Os primeiros anos do novo Zimbabué, após a independência, em 1980, foram para ele os bons tempos dos abraços e apertos de mão com os dirigentes de todo o mundo. Foram, então, exaltadas as suas vitórias -- reais -, os seus programas de construção de escolas, hospitais e casas para a maioria negra, antes marginalizada.
Mas desde logo, o Ocidente preferiu não ver que as eleições decorriam num clima de intimidação e que uma brutal repressão se abateu, a partir de 1982, sobre a província de Matabeleland (oeste), terra dos Ndebeles conquistada ao seu adversário Joshua Nkomo. O balanço dos massacres é de entre 10 mil e 20 mil mortos.
Robert Mugabe soube depois silenciar todas as oposições, quer através de purgas no Zanu-PF, o seu próprio partido, quer arranjando maneira de ganhar todas as eleições.
Após uma "reforma agrária" sangrenta que expulsou a maioria dos fazendeiros brancos do país, as campanhas eleitorais foram particularmente violentas em 2002 e 2008, o que fez com que o Ocidente multiplicasse as sanções contra ele e os colaboradores mais próximos do regime.
Mas apesar ele se tenha tornado indesejado na Europa e nos Estados Unidos, Mugabe continuou a ser visto como um herói pela maioria dos africanos, porque nunca se coibiu de criticar os ocidentais: as suas tiradas anti-imperialistas e as suas provocações agradam.
Comparam-no com Hitler, ele não se importa; criticam a legislação homofóbica que impôs, ele diz dos homossexuais que «são piores que cães ou porcos», um discurso que não choca forçosamente no continente africano.
Depois de ter arruinado o Zimbabué ao adotar uma política económica desastrosa, Robert Mugabe foi, no entanto, reeleito em 2013 para um novo mandato de cinco anos. Os seus adversários, confortados por alguns observadores independentes, garantem que ele cometeu fraude, nomeadamente manipulando as listas eleitorais.