A promessa eleitoral de Barack Obama sobre uma retirada militar do Afeganistão vai ser cumprida na quarta-feira, apesar de milhares de tropas estrangeiras permanecerem no terreno, entre receios sobre novas investidas talibãs num país em guerra desde 2001.
Corpo do artigo
Num cenário de grande turbulência regional, Estados Unidos e NATO vão liderar uma "missão de apoio" no Afeganistão pelo menos até 2016, enquanto se intensificam os esforços para promover o desenvolvimento de um país assolado por conflitos quase permanentes desde a invasão soviética de 1979.
Em setembro, após difíceis negociações, o embaixador dos EUA, James B. Cunningham, e o conselheiro para a segurança nacional afegã, Mohammad Hanif, assinaram em Cabul o Acordo de Segurança Bilateral (BSA), que define o futuro estatuto das forças da NATO e dos EUA no Afeganistão.
O BSA estipula que 9.800 tropas norte-americanas e pelo menos 2.000 soldados da NATO permaneçam no país após o fim formal da missão de combate internacional em 31 de dezembro. A sua missão consiste em prosseguir o treino das forças afegãs e promover operações de combate ao terrorismo dirigidas aos eventuais redutos da Al-Qaida.
A atual Força Internacional de Assistência à Segurança (ISAF) será substituída por uma missão de treino, com um quartel-general em Cabul e seis bases militares pelo país. O BSA também prevê que os EUA mantenham bases operacionais em nove regiões do Afeganistão, com Jalalabad (leste) vocacionada para o lançamento de missões armadas de aviões não tripulados ('drones'), que também têm atuado ao longo da fronteira com o Paquistão.
O acordo também isenta o pessoal militar dos EUA de ser submetido às leis afegãs por eventuais crimes cometidos, ficando apenas sujeito à jurisdição norte-americana.
Mas os desafios com que se debate o país asiático não se limitam à questão militar. Um relatório divulgado em meados de dezembro por John Sopko, inspetor-geral especial norte-americano para a reconstrução do Afeganistão, listou as sete "feridas" com que irá debater-se o Afeganistão "pós-2014", que inclui a fragilidade do Estado e do exército, para além da corrupção endémica e da questão da produção e tráfico de droga.
O relatório desta entidade independente, que desde 2008 tenta controlar os avultados gastos dos EUA no Afeganistão, concluiu que Washington despendeu cerca de 62 mil milhões de dólares (51 mil milhões de euros) nas forças de segurança afegãs, um esforço que poderá colapsar sem a permanência da prevista missão de formação.
A guerra do Afeganistão, a mais longa em que os Estados Unidos se envolveram, resultou até agora, segundo o site especializado "icasulaties.org", na morte de um total de 3.485 militares, dos quais 2.356 das forças armadas dos Estados Unidos. O Reino Unido é o segundo país com mais baixas no Afeganistão, com 453 militares mortos.
Portugal, que desde 2002 fez passar pelo Afeganistão cerca 3.100 militares, sofreu dois mortos, João Roma Pereira, sargento do Regimento de Comandos e Sérgio Pedrosa, soldado paraquedista.