O presidente do Mali anunciou as contas finais do assalto terrorista ao Hotel Radisson. Morreram 21 pessoas e há sete feridos. Entre as vítimas mortais há dois militantes islamitas.
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Segundo um alto responsável das Nações Unidas, que participa nas buscas ao hotel, os corpos foram encontrados em dois dos três pisos do hotel.
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Dois dos assaltantes morreram.
As autoridades malianas anunciaram ainda que todos os reféns, entre hóspedes e empregados, foram retirados do hotel. No hotel havia cidadãos do Mali, dos Estados Unidos, da Argélia e da Índia.
O governo do Mali decretou o estado de emergência em todo o território por uma duração de dez dias, anunciou o executivo de Bamako após um conselho de ministros extraordinário.
A reunião do governo decorreu poucas horas após o ataque do maliano da Al Qaeda.
Homens armados entraram esta sexta-feira de manhã num hotel de luxo na capital do Mali e sequestraram 170 pessoas, um ataque reivindicado pela Al-Qaida que terminou com um assalto de forças malianas e estrangeiras.
Os atacantes, cujo número total não foi ainda confirmado, chegaram cerca das 07:00 num automóvel com matrícula diplomática, entraram no hotel Radisson Blu aos gritos de "Allahu Akbar" (Alá é Grande) e começaram a disparar armas automáticas.
Pelo menos três pessoas morreram nesses primeiros momentos.
Muitos dos 140 hóspedes que foram feitos reféns, juntamente com 30 funcionários, eram estrangeiros de pelo menos 14 nacionalidades, incluindo cinco tripulantes da companhia aérea Turkish Airlines e 12 da Air France e cidadãos alemães, argelinos, belgas, canadianos, chineses, costa-marfinenses, espanhóis, indianos, marroquinos, norte-americanos, russos e senegaleses.
Cerca de quatro horas depois do início do sequestro, forças militares malianas apoiadas por unidades especiais francesas e norte-americanas lançaram um assalto ao hotel, permitindo a fuga de cerca de 80 dos reféns.
O ataque foi reivindicado pelo grupo radical Al-Mourabitoune, dirigido pelo 'jihadista' argelino Mokhtar Belmokhtar e afiliado da Al-Qaida, que num telefonema para a agência privada mauritana Alakhbar afirmou ter realizado o ataque com a colaboração da Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI).
O norte do Mali ficou em 2012 sob controlo de grupos 'jihadistas' ligados à Al-Qaida, perseguidos e dispersos a partir de janeiro de 2013 quando foi lançada, por iniciativa da França, uma intervenção militar internacional que se mantém no terreno.
Vastas zonas escapam no entanto ao controlo das forças malianas e estrangeiras. Durante bastante tempo concentrados no norte, os ataques 'jihadistas' alargaram-se desde o início do ano para o centro e depois de junho para o sul do Mali.
Portugueses a salvo
José Cesário, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, confirmou à TSF que, até ao momento, não tem indicação da presença de portugueses no hotel Radisson Blu. Já o Tenente-coronel Ramos Silva confirmou que todos os militares portugueses na capital do Mali estão em segurança.
O Mail é uma antiga colónia francesa e o norte do país foi ocupado, em 2012, por milícias islâmicas ligadas à Al-Qaida, o que levou a uma intervenção militar, que ainda se mantém, liderada pelas forças armadas de França.
Bamaco, a capital do Mali, foi em março alvo de um atentado contra um restaurante usado por estrangeiros onde morreram cinco pessoas. Este atentado de março foi reivindicado pelo grupo islamita Al Murabitun. Fundado em 2013, o grupo é dirigido pelo islamita argelino Mokhtar Belmokhtar.
O ataque foi reivindicado pelos grupos terroristas Al-Qaida no Magrebe Islâmico (AQMI) e Al Murabitun.
Ouvida pela TSF, Sandra Fernandes, diretora do Curso de Relações Internacionais da Universidade do Minho, sublinha que é a primeira vez que dois grupos terroristas com ligações à Al-Qaida reivindicam, em conjunto, um atentado.
"É uma novidade e ao mesmo tempo mostra o modo de funcionamento destes grupos, na medida em que não precisam de estar ligados a uma sede (...) Há espécie uma orientação imanente, que vem tradicionalmente da Al-Qaida e agora estes grupos têm uma espécie de franchising do que é o terrorismo que reivindica uma aplicação do fundamentalismo islâmico em detrimento da soberania dos estados que existem neste momento. É uma novidade a ligação destes dois grupos, mas na Nigéria, que fica muito próxima do Mali, o Boko Haram já fazia o mesmo e reivindicava o que eram reivindicações do Estado Islâmico".
A diretora do Curso de Relações Internacionais da Universidade do Minho diz que o Mali ganha importância por acontecer após os atentados de Paris e explica que este é um ataque, ainda que indireto, à França.
"Terá uma ligação (com Paris) do ponto de vista do que se pretende com este tipo de ataque. Não é um ataque direto aos interesses franceses, mas é uma forma de contestar a presença francesa no Mali. Uma vez que a França já desenvolveu uma operação no Mali e encontra-se a formar as forças do Mali para que possam combater o radicalismo islâmico no seu território. Acho que este atentado vem num contexto muito particular e terá um impacto muito diferente daquele que teria se não fosse na sequência dos atentados de Paris. A União Europeia está a debater o combate ao terrorismo, este é um tema no topo das prioridades das capitais europeias e este ataque vem propulsionar ainda mais a agenda política antiterrorista", afirmou a investigadora.