O negócio, a confiança, o peso do ruralismo e a falta de urbanidade à porta do candidato que lidera as sondagens no Brasil. Haja alegria... e paciência. Muita.
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Venda de t-shirts, bandeiras em verde e amarelo, apoiantes simpáticos e apoiantes que intimidam os repórteres, produtores rurais a desenhar o futuro governo, há de tudo um pouco à porta do 3100 da Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
Em frente ao mar, ao lado da portaria que dá acesso ao condomínio fechado de vivendas onde vive Bolsonaro, um homem dos seus trinta anos, de pele escura como mais de metade da população do país, vende "camisetas" em que predomina o verde-e-amarelo, muitas com a frase "o meu partido é o Brasil" mas também com a cara do candidato e o slogan oficial de campanha: "o Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". O homem é de poucas palavras quando vê o microfone da TSF, mas nunca para de tagarelar enquanto vende e estende ao cliente a máquina para pagar com cartão. Ali, na berma da estrada.
Muitos automobilistas passam e buzinam, em sinal de apoio ao deputado que em seis legislaturas só viu a câmara aprovar-lhe dois projetos legislativos. Pode subir o Palácio do Planalto a 1 de janeiro um homem que não era propriamente um parlamentar considerado e respeitado pela generalidade da Câmara dos Deputados.
Nesta quarta-feira Bolsonaro recebeu em casa uma delegação de produtores rurais, que vieram "reiterar o apoio incondicional" e ouviram do candidato a promessa de que vão ser chamados "a desenhar a futura composição do Ministério da Agricultura" que pode até ser fundido com o do Ambiente. Bolsonaro promete reduzir o governo de 34 para 15 ministérios.
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Cerca de duas dezenas de jornalistas passam aqui horas infindáveis à espera de algo que tenha valor de notícia.
Meia dúzia de apoiantes, entre os quais um antigo militante que não se coíbe de intimidar os repórteres ("peguem leve com o Bolsonaro, vocês estão pegando muito pesado", diz, em tom ameaçador enquanto filma toda a gente e fala o seu próprio telemóvel como de um jornalista televisivo se tratasse).
Ana Maria não finge aquilo que não é. Promotora de vendas, vê em Bolsonaro o "regresso do patriotismo" e alguém que pode acabar com "a corrupção que já cansa demais" a população brasileira, corrupção que imputa ao "partido adversário". Admite ter votado em Lula na primeira eleição (2002) porque vinha dos trabalhadores, mas sente que foi enganada. Pedro é da Barra da Tijuca e espera de Bolsonaro "a luta contra a corrupção" e o endurecimento da lei contra o crime. Diz que não faz sentido que os bandidos andem na rua e as "pessoas honestas vivam com medo de sair de casa". Precisamente aquilo que parece acontecer ao candidato que lidera as sondagens.
Raramente sai de casa desde que foi alvo de um atentado em Juiz de Fora. "Era bom que saísse mais e estivesse mais com o povão", diz Leonardo, sem ponta de crítica porque está à porta do homem que quer "eliminar" do Brasil todos os "vermelhos": "apoio com todas as minhas forças". No Domingo, Leonardo, Pedro e Ana Maria, o tresloucado antigo militar que intimida jornalistas e o vendedor de t-shirts com máquina para pagar com cartão, acreditam que vão fazer a festa.