A bordo da Flotilha da Liberdade com Giovanna Vial e a vigilância constante de drones
Diante da tensão e da vigilância constante, os ativistas a bordo da Flotilha da Liberdade seguem na missão de desafiar o bloqueio marítimo imposto por Israel à Faixa de Gaza
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Em entrevista à TSF nesta sexta-feira, a jornalista brasileira Giovanna Vial detalhou as dificuldades da viagem, a convivência a bordo e os objetivos da campanha humanitária, que saiu de Barcelona, Espanha, no dia 21 de agosto.
"A gente só saiu efetivamente do porto de Barcelona na segunda-feira (25/08). Tivemos uma noite bem complicada, com mau tempo também de segunda para terça-feira (26/08)”, disse.
Após uma escala de descanso na Ilha de Maiorca, o barco partiu na quinta-feira (28/08) em direção à Tunísia, onde deve atracar em aproximadamente três a quatro dias. A jornalista relatou ainda que, desde a partida, a vigilância aérea tem sido constante.
"Na maioria das noites, a gente teve drones sobrevoando o barco, mas não sabemos se são israelenses, espanhóis, porque a gente estava em águas territoriais espanholas também, então é difícil saber de quem são esses drones. Mas o fato é que eles sobrevoaram por bastante tempo, quase todas as noites, desde que a gente saiu de Barcelona”, explicou.
Cooperação internacional a bordo
Giovanna Vial lembrou que a diversidade de nacionalidades a bordo da Flotilha da Liberdade exige um grande exercício de diplomacia e colaboração. Só no barco onde ela está, há dez nacionalidades diferentes, e mais de 40 em toda a flotilha.
"É preciso ter uma sensibilidade cultural bastante grande, mas todo mundo é muito cooperativo, a gente fez divisão de tarefas, todo mundo faz um pouco de tudo, limpa banheiro, limpa cozinha, enfim, as atividades são divididas e a gente tá tentando se organizar da forma mais harmônica possível", disse.
A estratégia, segundo Giovanna, é simbólica e prática: abrir um corredor humanitário. Ela também afirmou que a carga principal levada pelo grupo é composta por alimentos e fórmulas infantis para bebés. No entanto, o propósito final vai além dessa entrega direta de mantimentos.
“Nosso objetivo não é necessariamente pisar em Gaza, mas abrir um corredor para que as embarcações possam passar, para que esse corredor seja aberto e então a ajuda humanitária possa começar a vir por mar, já que por terra a gente sabe que é praticamente impossível desde março deste ano”, explicou.
Segundo o comissário-geral da Agência da ONU, Philippe Lazzarini, pelo menos cem menores morreram na área de conflito por desnutrição. De acordo com o Unicef, o número de crianças mortas ou feridas em bombardeios e ataques aéreos chega a 40 mil. Além disso, pelo menos 17 mil estão desacompanhados e separados de suas famílias, e um milhão vive em profundo trauma sem acesso à educação.
Por questões de segurança, não foi revelado quem os receberia do lado palestino. “É muito difícil falar para vocês quem é que tá esperando do outro lado e qual é a nossa contrapartida de lá, não é? Porque a gente não pode dar nomes, não pode colocar outras pessoas em risco.”
Proteção governamental
Questionada sobre o acompanhamento do Governo brasileiro, Giovanna afirmou que o Itamaraty tem "plena noção da missão". E lembrou a atuação ativa da diplomacia brasileira durante o sequestro e a prisão do ativista Thiago Ávila pelo Executivo israelita na missão anterior.
No entanto, a jornalista lamentou a ausência do presidente Lula da Silva naquele momento, principalmente pelo facto de o chefe de Estado brasileiro ter reunido com o Presidente francês, Emmanuel Macron.
“Faltou um pouco de pronunciamento da parte do Presidente Lula, que estava em viagem oficial a Paris, depois ao sul da França. Inclusive, naquele momento, também havia cidadãos franceses no barco onde o Thiago estava, e nenhum dos dois pronunciaram efetivamente, explicitamente, sobre a presença dos seus cidadãos no barco”, ressaltou.
Neste momento, além de Giovanna, outros brasileiros estão a bordo da Flotilha da Liberdade. São eles: Bruno Gilga Rocha, Lucas Farias Gusmão, João Aguiar, Mohamad El Kadri, Magno Carvalho Costa, Ariadne Telles, Lisiane Proença, Carina Faggiani e Victor Nascimento Peixoto, além da vereadora do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Mariana Conti, e da presidente da legenda no Rio Grande do Sul, Gabrielle Tolotti.
“É praticamente impossível que o Governo não esteja a par da situação, e obviamente não vão omitir ajuda diplomática ou negar ajuda se a gente precisar em casos de intercetação e sequestro”, esclareceu.
Sobre a notícia de que o Governo português se recusou a prestar apoio aos seus cidadãos na flotilha, a jornalista foi taxativa: "Isso na verdade não é escolha deles. É uma obrigação administrativa e governamental que eles não podem se eximir", reforçou.
Entre os portugueses navegando ao lado dos ativistas brasileiros, estão a deputada pelo Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua, a atriz e modelo Sofia Aparício e o ativista Miguel Duarte.
Sabotagem
Antes de se despedir, a jornalista brasileira fez um alerta a respeito do risco de sabotagem pelo Governo de Benjamin Netanyahu. Giovanna Vial explicou que flotilhas anteriores sofreram diversos tipos de interferência, desde um ataque de drone em 1.º de Maio até articulações diplomáticas de Israel para impedir a saída dos barcos de portos europeus.
"Esse estilo de sabotagem é bem clichê, é bem carta marcada já", pontuou. “A gente já está acostumado a lidar com esse tipo de coisa, mas a sabotagem vem de todo lado, né? Nós estamos falando de um Estado pária que faz qualquer coisa para impedir que civis ajudem outros civis famintos com a fome que eles mesmos orquestraram”, afirmou.
Apesar das ameaças e dos desafios, a tripulação mantém o ânimo e a vigilância. "A gente está alerta para todos os tipos de sabotagem, mas por enquanto navegamos, por enquanto está tudo certo", finalizou Giovanna, enquanto o barco seguia seu curso rumo à Gaza.
