A Representante de Bruxelas alerta que é preciso defender "meios de comunicação livres e independentes" para evitar uma "democracia doente"
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A chefe da Representação da Comissão Europeia em Portugal, Sofia Moreira de Sousa, identifica “a desinformação” como uma das “grandes ameaças à nossa sociedade e à nossa democracia”, avisando para o impacto das fake news na forma como os cidadãos percebem o mundo e tomam decisões políticas ou pessoais.
Em entrevista ao programa Fontes Europeias, da TSF, a representante do executivo comunitário, em Lisboa, admite que o combate à desinformação será “duro”, mas que “tem de ser travado”.
Os cidadãos estão cada vez mais expostos a dados falsos e algoritmos que moldam decisões contrárias aos seus próprios interesses.
A representante do executivo comunitário afirma que há legislação europeia dirigida ao combate à desinformação, nomeadamente “a Lei dos Serviços Digitais e a Lei da Liberdade dos Meios de Comunicação”. Estas duas medidas integram-se na estratégia da Comissão Europeia para reforçar a transparência online e proteger o jornalismo.
“Sem meios de comunicação livres e independentes, nós temos uma democracia doente”, alertou, defendendo que a liberdade de imprensa está no cerne do Estado de Direito.
A chefe da Representação em Lisboa lembrou também a importância do pensamento crítico individual, que deve ser promovido a partir da educação, nas escolas. “As nossas crianças (...) não devem ser educadas por algoritmos.”
Sofia Moreira de Sousa salienta que o combate à desinformação “não é apenas institucional, é também cívico”, considerando que é “preciso que todos se sintam parte deste esforço, porque a democracia é uma construção coletiva”.
De uma forma pedagógica, Sofia Moreira de Sousa apelou a uma leitura atenta dos dados que circulam nas redes, avisando que cada um deve ser responsável pela triagem da informação de partilha. “Antes de reenviar uma mensagem, devemos parar, reler, pensar e verificar se é realmente informação. A maior parte das vezes, não é”, alertou.
Quadro Financeiro
A propósito das discussões sobre o próximo Quadro Financeiro Plurianual, Sofia Moreira de Sousa antecipa negociações “árduas e longas”. “Os orçamentos nunca são suficientes para tudo aquilo que se gostaria de ver resolvido”, reconheceu. “Mas muitas vezes não se resolvem os problemas só com o orçamento — é preciso ter políticas certas, reformas e soluções conjuntas.” O objetivo, disse, é “um orçamento utilizado de forma eficiente”, salientando que “este orçamento será superior em termos nominais ao anterior”.
Quanto ao equilíbrio entre Estados-membros, admite que cada país “tenta sempre assegurar que sai com uma posição mais beneficiada”. “É a forma da União trabalhar: negociação, concessões e resultados benéficos para todos. Não será perfeito, mas tem de dar resposta aos desafios que enfrentamos.”
Questionada sobre as diferenças na perceção das políticas europeias entre cidadãos, setores políticos e corporativos, reconheceu que “depende muito do ponto onde os interlocutores estão”.
“Os estudantes pensam no Erasmus, os agricultores na política agrícola comum, os investigadores no Horizonte Europa, as autarquias nos programas de coesão”, detalhou, salientando que, em Portugal, a adesão à União Europeia é vista de forma consensual. Para Sofia Moreira de Sousa, a perceção sobre a União Europeia, em Portugal, deve-se muito à “mudança incrível nos últimos 40 anos e ao progresso da democracia, que foi consolidado graças à adesão à União Europeia”.