A despedida enigmática de Juncker. "Suprimimos o spitzenkandidat por razões obscuras"
Na última conferência na sala de imprensa na sede da Comissão Europeia, em Bruxelas, o presidente cessante, Jean-Claude Juncker despediu-se com alertas e críticas à nomeação de Von der Leyen.
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Jean-Claude Juncker "não é homem de despedidas", mas compareceu esta sexta-feira, uma última vez, na sala de imprensa do edifício Berlaymont, para uma derradeira ronda de respostas aos jornalistas. Ora num tom irónico, ora num tom emotivo, o único presidente da Comissão Europeia eleito nas urnas, lamentou, em tom sério, o processo de nomeação da sua sucessora, Ursula von der Leyen, com o "erro" do fim do processo designado como Spitzenkandidat.
"A ideia de fazer campanha em 2014, sendo spitzenkandidat foi boa, a ideia de não repetir o processo em 2014 foi um erro", afirmou Juncker, admitindo que "gostar desta situação particular, de ter sido o único que não teve sucessor nas funções".
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"Mas, digo que é também com tristeza que devo expressar, que foi um pequeno avanço democrático que foi suprimido, por razões obscuras", deixando no ar a crítica enigmática, sem esclarecer se se referia às supostas pressões dentro do Conselho do Europeu, da parte dos governos de um grupo de países, - entre os quais a Polónia e a Hungria -, em litígio com Bruxelas, acusados de violações ao Estado de Direito.
Antes, Juncker abordou o tema, conduzido pelo comissário para a política da Regulação Estado Direito, Frans Timmermans, - que chegou a ser apontado como o spitzenkandidat com maior consenso, entre Estados e famílias políticas, para presidência da Comissão, depois de vários anos em rota de Colisão com Varsóvia e Budapeste.
"Tive um amigo, - que continua a ser um bom a migo - Jean-Claude Trichet, [presidente do] Banco Central [Europeu], que sempre que no Eurogrupo queria que os ministros o ouvissem, ele dizia: "estou extremamente preocupado". Depois disso, os ministros paravam de ler os respetivos papéis. Quando Trichet dizia estou muito preocupado, o assunto era grave", contou Juncker, acrescentando que diz agora "o mesmo no que diz respeito ao Estado de Direito, estou extremamente preocupado".
As afirmações a encerrar o mandato, deixam claro que Juncker não ficou satisfeito, com a reviravolta no processo de escolha de um sucessor, quando a 2 de julho, numa cimeira marcada por um longo impasse, os 28 deixaram cair o processo que na Comissão e no Parlamento era tido com um avanço democrático.
Recorde-se que, em declarações à TSF, na última cimeira europeia em que participou, o presidente cessante já deixava subentendido o desconforto com o fim do processo. Sobre as expectativas em relação ao futuro mandato da sua sucessora, Jean-Claude Juncker respondeu de forma lacónica dizendo que isso "é um problema dela e não meu".
"Vou ajudá-la", tinha, porém, respondido, e acrescentou: "espero que ela cuide da Europa", falando no final da "ultima" de 148 cimeiras. Esta sexta-feira, reiterou a ideia, dizendo; "não vou deixar recados a Von der Leyen, a não ser o de que cuide da Europa".
"O euro e eu somos os únicos sobreviventes do tratado de Maastricht, com a minha partida fica só o euro", afirmou na despedida, de um mandato único, que assumiu em 2014, depois de concorrer, em 2014, às eleições europeias, como cabeça de lista do Partido Popular Europeu.