"A esperança é a última a morrer." Lusodescendentes esperam um "milagre" na Venezuela
Agostinho Gomes e Paulo Sousa são lusodescendentes, vivem na Venezuela e aguardam por mudanças drásticas no país. Já viram os filhos abandonar o local que os viu nascer e não perdem a esperança, apesar de não haver muita.
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Nicolás Maduro toma posse para um novo mandato presidencial na Venezuela, esta quinta-feira, e os luso-venezuelanos que vivem no país estão preocupados com o futuro e aguardam um milagre.
Aos 75 anos, Agostinho Gomes, madeirense mas a viver na Venezuela há 61 anos, admite que é cada vez mais difícil viver no país que o acolheu e onde foi comerciante durante toda a vida. Apesar das dificuldades, já não quer deixar o país.
"Por enquanto não [penso em sair da Venezuela], eu vivo com a esperança de que isto mude. Temos as nossas coisas aqui, os nossos investimentos e não podemos ir embora e abandonar", explicou o madeirense à TSF, admitindo que "há dificuldades em tudo, é horroroso".
Agostinho Gomes vive "na esperança que este mal não dure muito mais", por acreditar que se está a "tornar fundo, mais do que fundo". O reformado espera que a "pressão a nível internacional contra Maduro" ajude ao afastamento, mas acredita que o Presidente da Venezuela "não vai fazer caso".
Já Paulo Sousa, de 63 anos, também lusodescendente, já nasceu na Venezuela, e acredita que o país só poderá voltar à normalidade com ajuda.
"Há quem o chame usurpador, por estar a tomar o poder ilegalmente, outros dizem que é um vazio porque já não vai haver um Presidente legalmente constituído e outra parte, que está com o Governo, acha que está tudo muito bem, e que vai ser o início de uma nova era. Veremos qual das partes tem maior força", referiu o filho de pais portugueses em declarações à TSF.
O engenheiro civil admite que se está "à espera de um milagre, que isto mude, mas não está nada fácil". Paulo Sousa conta ainda que "um plano B é cada dia mais frequente", referindo-se a uma possível saída do país e justificando que as filas no consulado geral em Caracas "são enormes". "Querem ter a nacionalidade, uma facilidade para ir para Portugal e para a maioria dos países, ter um passaporte português também ajuda muito mais", frisou.
"As pessoas têm medo e acham que não aguentam mais seis anos disto. O país não vai aguentar seis anos nestas circunstâncias, a esperança de que haja uma mudança política existe sempre, a esperança é a última a morrer, mas não é muita. Se isto não muda rápido, quem puder vai regressar a Portugal ou para outros sítios, Panamá, Miami, Espanha, sobretudo a comunidade jovem que está a desaparecer", disse.
Os filhos de Paulo Sousa, bem como os de Agostinho Gomes, foram obrigados a deixar o país em busca de melhores condições de vida.
"Nunca pensei que os meus filhos tivessem de emigrar neste país", assumiu Agostinho Gomes, "ainda por cima todos espalhados", um nos Estados Unidos, um em Espanha e outro na Costa Rica. "Mas temos de viver na esperança de que isto vai mudar", disse, com uma voz emocionada.