A estranheza de Martin Amis e a transcendência de Lisandro Alonso
Corpo do artigo
Ontem foi dias de OVNI, estranhos objetos não identificados na Croisette. Filmes de uma estranheza que conquistaram os festivaleiros de Cannes. Começo por The Zone of Interest, de Jonathan Glazer, a partir de Martin Amis. A banalidade do mal num objeto de cinema sensorial que manda às urtigas princípios narrativos. O cineasta de Birth tenta comunicar com imagens em negativo, ecrã vermelho, distorção de som e sugestão documental. É uma nova linguagem cinematográfica para falar do Holocausto através do dia-a-dia de uma família de um oficial nazi que comanda as operações em Auschwitz. Na sessão de imprensa, muitos saíram estado de choque.
TSF\audio\2023\05\noticias\20\20_maio_2023_rui_pedro_tendinha_cannes
Na secção Cannes Premiere, foi a vez de um banho de bizarria chamado Eureka, de Lisandro Alonso, produzido também por Joaquim Sapinho e com uma breve participação de Luísa Cruz. A atriz portuguesa contracena com Viggo Mortensen num western a preto e branco. Só que não. Afinal, o que estávamos a ver era o que uma família de uma reserva de índios do Dakota estava a ver na televisão. Depois tudo flui para uma aventura de reencarnação que vai dar até à floresta da Amazónia. Cinema livre, espontâneo e muito amigo do plano sequência longo.
Entretanto, na sala de imprensa o sentimento dos jornalistas é o de espanto perante os atrasos das sessões, sejam oficiais, sejam as de imprensa. Atrasos que causam o caos no planeamento de entrevistas e de encaixe para ver todos os filmes da competição. O impensável está a acontecer. O rigor de Cannes está em causa...
