Uma imagem vale mais do que mil palavras, mas o contexto de uma fotografia pode mudar tudo.
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As redes sociais foram invadidas, nos últimos dias, por uma imagem que mostra uma criança a chorar dentro de uma gaiola. Muitos dos que partilharam a publicação acreditavam que se tratava de um menino detido sob a nova política de imigração do governo Trump, que já separou pelo menos duas mil crianças dos pais que atravessam a fronteira dos Estados Unidos da América sem documentos.
Mas a história estava mal contada. Na verdade, a fotografia foi tirada durante um protesto que aconteceu a 10 de junho, em Dallas, contra as políticas de imigração da Casa Branca, organizado por um grupo de defesa dos direitos dos latinos, os Brown Berets de Cemanahuac.
Na página de Facebook do grupo, podem ver-se outras imagens do protesto em que vários adolescentes estão dentro de uma gaiola com cartazes contra a separação das famílias. O menino retratado na fotografia que foi amplamente partilhada é visto nessas imagens fora das grades.
https://www.facebook.com/Brownberetsofdfw/photos/a.1158719984170757.1073741831.1154379917938097/2064282006947879/?type=1
O responsável pelo grupo que organizou o protesto, Leroy Pena, foi o autor das fotografias que partilhou com a legenda: "Isto foi parte do nosso protesto de ontem, mas isto está realmente a acontecer agora, neste exato momento, em centros de detenção de crianças em todo o país".
Leroy Pena disse à CNN que o menino entrou para a gaiola atrás do irmão mais velho, que participava no protesto. Ao ver a mãe fora da gaiola - e sem saber como sair - começou a chorar. Foi neste momento que a fotografia foi tirada e foi assim que o equívoco começou.
Várias celebridades, como o ator da Guerra das Estrelas, Mark Hamill, e o jornalista e cineasta, Jose Antonio Vargas, publicaram a fotografia e incentivaram a partilha da imagem. O post de Vargas no Facebook teve quase dez mil partilhas.
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Já não é a primeira vez que uma imagem tirada do contexto se torna viral. Em 2014, um vídeo mostrava um rapaz sírio a salvar uma rapariga durante um tiroteio. No entanto, as imagens eram ficcionadas. O vídeo foi gravado em Malta, por um grupo de cineastas noruegueses que pretendia que as imagens parecessem reais para que se discutisse a situação das crianças em zonas de conflito.
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Lars Klevberg, que dirigiu as gravações, confessou, na altura, à BBC, que pretendia que o filme parecesse real, para que as pessoas o partilhassem e reagissem. Na verdade, as filmagens aconteceram num cenário que já foi usado em filmes célebres como "Troia" e "Gladiador". O rapaz e a rapariga que aparecem nas filmagens eram, afinal, atores profissionais e as vozes de fundo eram de refugiados sírios que viviam em Malta.