
Zohra Bensemra/REUTERS
Há uns dias, Yasmine chorava assustada, junto ao mar, depois de alcançar a Grécia. Está a fugir à guerra que tem à porta de casa, na Síria. Agora está a chegar à Alemanha.
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Yasmine, de 6 anos, a mãe, Abeer, e o pai, Ihab, atravessaram cinco fronteiras, esmagados em autocarros a rebentar pelas costuras e em carruagens de comboio cheias que nem um ovo, mas também a pé, enfrentando dias quentes e manhãs frias, aproveitando a água da chuva para tomar banho.
Quando chegaram à Áustria, encontraram uma espécie de paraíso. A vienense Eva acolheu a família. Deu-lhes abrigo, confiou neles, entregou-lhes-lhes a chave de casa, deixava dinheiro em cima da mesa da cozinha, pediu-lhes até que tomassem conta do filho dela. Abeer, a mãe de Yasmine, diz que não sabe como agradecer a Eva. Não tem palavras para a hospitalidade e para a bondade dela. Não sabe como agradecer a confiança, o banho quente, os lençois lavados.
A família tem, no entanto, outro destino. Precisa de seguir caminho rumo à Alemanha para ir ter com a avó de Yasmine, a mãe de Ihab.
A Reuters acompanhou-os na viagem. Na estação de comboios de Viena, Ihab faz notar a diferença entre aquele ambiente calmo, onde os refugiados se misturam com os locais e os turistas, em paz. Leem e conversam. Um ambiente tão diferente de outras paragens por onde antes já tinham passado.
Apanham finalmente o comboio, mas há mais um percalço pelo caminho: o comboio é travado em Salzburgo. A Alemanha está a impedir a entrada de mais refugiados por aquela fronteira. Eles têm que aranjar um novo plano B e invertem a marcha. Viram para oeste, para tentar seguir em direção a Munique, entrando por outra fronteira. É aí que são parados pela polícia. É preciso documentar o pedido de asilo: informações, impressões digitais... Ihab já desespera. Só quer chegar a Lubeck, na outra ponta da Alemanha, lá em cima, perto de Hamburgo. Para ir ter com a mãe, a avó da pequena Yasmine, e conseguir finalmente juntar toda a família.
São mais oito horas de comboio. A longa viagem ainda não terminou.