A morgue sobrelotada e o 'milagre' no berçário do hospital. A vida na Beira depois do ciclone
Os mortos amontoam-se na morgue e os vivos no hospital - pelo menos, aqueles que lá conseguem chegar. A TSF está a acompanhar a nova vida da cidade da Beira, em Moçambique, após a destruição causada pelo ciclone Idai.
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Já não há mais espaço na morgue da Beira. Aqui chegaram mais de uma centena de cadáveres, nos últimos dias. Os corpos das vítimas do ciclone que assolou Moçambique têm de ser enterrados o mais depressa possível.
"A nossa capacidade na morgue é de um corpo por cada gaveta e chegamos já a inserir três corpos em cada gaveta", revela José Manuel Moisés, o vereador do Conselho Municipal da Beira, responsável pela gestão da morgue da cidade. "A demanda foi tão maior que até chegámos a ter outros corpos fora das gavetas. Não se consegue gerir."
A sobrelotação da morgue está a fazer com que a autarquia apele aos familiares das vítimas para que organizem os enterros o mais rapidamente possível.
"Apelamos aos familiares para que os enterros sejam feitos com celeridade, para evitar a decomposição dos corpos, visto que, por falta de energia elétrica, estamos a assegurar a conservação dos corpos através de um gerador", explica o vereador da Beira, em declarações à TSF.
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O último balanço oficial aponta para 294 mortos, após a passagem do ciclone Idai por Moçambique. Mas há também um número indeterminado de feridos, que continuam a chegar ao hospital da cidade, onde os médicos e enfermeiros não têm mãos a medir.
A diretora clínica do Hospital Central da Beira, Ana Tambo, está, no entanto, preocupada sobretudo com aqueles que não conseguem chegar.
"O grosso da população não tem acesso ao hospital, infelizmente. Esses é que nos preocupam mais", declara a médica, ouvida pela TSF.
Ana Tambo refere que a fúria do ciclone não poupou ninguém, e que também parte do corpo clínico do hospital perdeu tudo. "Há médicos e enfermeiros que não têm como vir, que nem uma peça de roupa conseguiram salvaguardar", conta.
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Apesar da dimensão da devastação, a diretora clínica do hospital afirma que nem tudo foi mau. "Com tudo o que aconteceu, conseguimos proteger-nos a nós próprios e aos doentes atempadamente", diz.
Ana Tambo aponta o exemplo do berçário do hospital, de onde todos os bebés foram retirados apenas momentos antes de o teto cair.
"Na altura em que percebemos que o edifício estava a mostrar alguma insegurança, conseguimos retirar imediatamente do berçário todos os recém-nascidos, incluindo os prematuros, para uma área segura. Daí a 30 minutos, o teto do berçário desabou", relata a médica. "Apesar de tudo o que aconteceu, fomos abençoados", conclui.
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*com Cristina Lai Men e Rita Carvalho Pereira