O site norte-americano BuzzFeed acompanhou Abdul, um jovem sírio que tentou ir da Turquia à Grécia através do Mar Egeu, durante a primeira semana de novembro.
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Abdul, um jovem sírio de apenas 19 anos, tinha uma missão: sair de Esmirna, na Turquia, e chegar são e salvo à costa da Grécia. Para concretizar o seu objetivo, Abdul teria de conseguir atravessar o Mar Egeu, sem que o barco onde fosse colocado afundasse. Pelo meio, aceitou documentar a odisseia em tempo real, através do WhatsApp, para o site norte-americano BuzzFeed.
Atravessar o Mar Egeu já levou à morte de centenas de pessoas, só este ano. Ainda assim, estimam-se que 570 mil pessoas já tentaram a sua sorte. Não é uma jornada fácil, muito menos em novembro, com a chegada do inverno. Na primeira semana do mês, Abdul decidiu que estava na altura de tentar a sua sorte. Até aqui, a comunicação entre a jornalista do BuzzFeed responsável pela história e Abdul era quase imediata. Mas o imediato deu lugar a um silêncio de Abdul, durante dias e mais dias. E o Whatsapp confirmava que as mensagens enviadas pela jornalista não estavam a ser lidas.
Finalmente, Abdul conseguiu responder. Estava vivo. Nas suas palavras, "atordoado e nada bem". O jovem sírio não tinha conseguido fazer a passagem, mas pelo menos estava vivo. O barco onde partiu afundou e Abdul teve que nadar de volta para a Turquia. Nem todos tiveram a mesma sorte. Enquanto pensava no seu próximo passo, Abdul contou como tudo se passou, antes mesmo de entrar no barco. Abdul e outros tantos refugiados que queriam chegar à Grécia deslocaram-se a Esmirna, estabeleceram contactos com os traficantes, que os agruparam numa casa casa, antes da grande viagem.
Quando chegou o grande dia, Abdul e todos os outros foram obrigados a entrar num barco que sabiam não estar em condições. De um lado estava um barco cheio de água e com o motor a deitar fumo. Do outro, uma série de terroristas de armas em punho, apenas interessados nos 1.000 euros que cada refugiado rendeu. Se quisessem atirar-se logo ao mar ninguém os impedia, e foi o que muitos fizeram.
Abdul decidiu arriscar. Afinal, nada daquilo se comparava ao terror que viveu na Síria. O sonho de continuar a estudar para um dia ser médico falou mais alto. No dia em que os políticos começaram a impor restrições à entrada de refugiados nos seus países, o barco de Abdul estava a afogar-se no Mar Egeu. Abdul sobreviveu e ainda mantém o sonho bem vivo. Agora resta-lhe arranjar um trabalho, poupar, e voltar a entregar dinheiro aos traficantes, de preferência quando o mau tempo der tréguas.