A perspetiva não é animadora na opinião da ativista Idil Eser. Em entrevista à TSF, a ex-diretora da Amnistia Internacional na Turquia elege crescimento dos populismos como uma realidade a que as ONG devem ter em conta em 2019.
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Primeiro, uma constatação: a situação dos direitos humanos no mundo está pior. Em seguida, uma previsão: "vai continuar a piorar". A opinião é de Idil Eser, ativista turca, ex-diretora da Amnistia Internacional em Istambul que saltou para as primeiras páginas dos jornais de todo o mundo quando foi presa, acusada de terrorismo, ainda que "o crime seja a defesa dos direitos humanos".
Olhando para 2018 e com o crescimento dos populismos por todo o mundo, esta ativista sublinha que as organizações internacionais, incluindo as que defendem os direitos humanos, não estavam preparadas para esta situação. Por isso mesmo, Idil Eser aconselha as ONG a "encontrar formas mais eficazes de lidar com o crescimento do populismo, persuadir as pessoas da importância dos direitos humanos". "Devemos construir comunidades de pessoas que acreditem na importância dos direitos humanos e que tenham interiorizado esses direitos. Dizê-lo em palavras mas sem os atos não é suficiente. Temos de desenvolver melhores métodos de comunicação e de persuasão. Também temos de ser capazes de falar com pessoas de outras vizinhanças, pessoas que não pensam como nós", explica Idil Eser à TSF.
Eles não sabem o que fazem. Ou será que sabem?
Mencionando várias vezes ao longo da conversa o crescimento dos populismos em todo o mundo e com exemplos que vão desde a Hungria ao Brasil passando por muitas outras latitudes, Idil Eser não culpa as pessoas que votam em líderes populistas porque elas "têm preocupações legítimas e que, basicamente, estão relacionadas com o medo e a insegurança acerca do futuro". "São pessoas que têm uma compreensão muito estática da cultura, querem voltar a um dia no tempo onde pensam que tudo era perfeito, o que nunca foi o caso. Talvez possamos juntar-nos como pessoas do mundo e construir uma melhor compreensão do futuro. Precisamos de um novo contrato social, o Estado-nação não está a sair-se bem nesta fase, é preciso uma certa mudança de mentalidade", sublinha a ativista.
"Não devemos ver estas pessoas que votam em populistas como ignorantes ou loucos, elas não estão apenas conscientes das consequências de algumas das suas ações e foram cegadas pelo medo. Temos de fazer o nosso melhor para chegar até elas", conclui.
Em termos de acontecimentos, Idil Eser tem na ponta da língua os destaques de 2018 e que resvalam para 2019. "As decisões fortes de Trump vão ter repercussões importantes no futuro", começa por dizer a ativista centrando, logo em seguida, o discurso na Europa. "A inabilidade da Europa para desenvolver uma política de refugiados e que é importante no longo prazo. A Europa já devia ter uma política de refugiados e de imigração há anos", diz. Por fim, o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi: "foi decisivo e mostrou a inabilidade dos governos em lidar com o caso. Foi uma violação direta de um grande número de leis internacionais".
No entanto, apesar de constatar que as coisas vão piorar, no fim as coisas vão melhorar. "Toda a gente precisa de se reorganizar. Não vai ser fácil, mas acho que é possível, podemos inverter a maré. Penso que pode ser feito, não quer dizer que seja fácil. Nada daquilo que é importante na história humana foi fácil", conclui.