A voz judaica contra a guerra: rabinos e manifestantes pressionam Netanyahu para acordo de cessar-fogo
Os líderes religiosos afirmam que os crimes do Hamas não isentam o governo israelita da obrigação de fazer todos os esforços necessários para evitar a situação de fome que está a ser vivida
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Num dia de luta em Israel, centenas de pessoas estão a manifestar-se junto ao gabinete oficial do primeiro-ministro. Netanyahu está reunido com o conselho de segurança e os manifestantes exigem um acordo de cessar-fogo em Gaza que leve à libertação de todos os reféns.
A situação em Gaza está a levar, também, à mobilização de líderes religiosos judaicos, um pouco por todo o mundo. Nas últimas semanas dezenas de rabinos manifestaram-se contra as políticas do governo. Esta é uma ação muito pouco habitual - os líderes religiosos criticarem a atuação do executivo -, mas à medida que a situação se agrava nos territórios palestinianos, têm-se multiplicado as cartas abertas pedindo uma mudança de atitude.
Uma das missivas foi assinada por 80 rabinos ortodoxos, entre eles o da Polónia, Noruega, o antigo rabino chefe da Irlanda e o antigo líder religioso da Universidade Yeshiva, uma instituição ortodoxa em Manhattan, nos EUA. Estas oito dezenas de líderes manifestam preocupação não só com a Faixa de Gaza, mas também com o que se passa na Cisjordânia, onde se têm intensificado os ataques de colonos contra os habitantes palestinianos e onde o governo já deu luz verde para a construção de novos colonatos.
No texto desta carta aberta, os rabinos afirmam que os crimes do Hamas não isentam o governo israelita da obrigação de fazer todos os esforços necessários para evitar a situação de fome que está a ser vivida. Eles acrescentam que a responsabilidade e a falta de preocupação que o Hamas tem com a saúde e o bem-estar dos palestinianos não desresponsabiliza Israel pela destruição que causou.
No texto a que o New York Times teve acesso, os líderes religiosos exigem a Benjamin Netanyahu clareza moral, responsabilidade e uma resposta judaica ortodoxa àquilo que chamam crise humanitária. A Torá e a tradição ordenam aos judeus que alimentem os pobres e os famintos, respeitem a santidade da vida e demonstrem misericórdia e compaixão; e é isso que os rabinos querem ver cumprido.
A deterioração das condições em Gaza e a recusa das autoridades em ajudar os civis palestinianos está a levar alguns que se consideram fervorosos apoiantes de Israel a manifestarem publicamente oposição à forma como o governo de extrema-direita está a conduzir a guerra.
Algumas das posições expressas nas cartas abertas reveladas até agora repetem os apelos feitos por manifestantes, académicos, autores, políticos e por líderes militares reformados de Israel que têm alertado cada vez mais para os potenciais crimes de guerra que o governo está a praticar em nome dos judeus.
Muitas das cartas divulgadas nas últimas semanas são de líderes de comunidades judaicas nos Estados Unidos. Naquele país, a guerra em Gaza criou divisões dentro das diversas comunidades, separando famílias, congregações, escolas religiosas e organizações comunitárias. Os mais novos tendem a apoiar a defesa dos civis palestinianos, enquanto os mais velhos e mais religiosos têm sido defensores irredutíveis de Israel.