Abdullah Ocalan está preso há 20 anos, mas continua como símbolo da luta dos curdos
Depois de 20 anos a lutar pelos direitos dos curdos, e de vários anos no exílio, Abdullah Ocalan foi detido em 1999. Condenado à morte, o líder curdo viu a pena comutada para prisão perpétua.
Corpo do artigo
Vinte anos de luta e vinte anos de prisão. Assim passaram 40 dos 70 anos de Abdullah Ocalan, o líder dos curdos da Turquia, que foi detido a 15 de fevereiro de 1999.
Nesse dia chegou ao fim uma longa história de fuga. O território do líder curdo foi encurtando ao longo dos anos, à medida que os países deixaram de lhe dar asilo. Já tinha sido expulso da Síria, Rússia, Itália e Grécia. Ocalan foi detido em Nairóbi, quando era transportado por diplomatas gregos para o aeroporto internacional, de onde queria partir à procura de um novo abrigo.
O fundador do PKK - Partido dos trabalhadores do Curdistão - tinha pedido asilo ao governo grego, que para não causar problemas diplomáticos com a Turquia o transferiu para o Quénia. Na capital, o carro onde seguia foi intercetado por agentes turcos. Uma ação das forças especiais que terá tido a colaboração dos Estados Unidos.
O PKK era considerado uma organização terrorista tanto por Washington como por Bruxelas.
As primeiras imagens de Ocalan vendado e algemado foram transmitidas pela televisão turca três dias depois. O líder curdo foi extraditado para Ancara e começou a ser julgado logo em junho de 1999. Perante os juízes, garantiu que estava disposto a servir o Estado turco, promovendo a paz e a fraternidade entre turcos e curdos. Assegurou ainda que podia acabar com a luta armada em três meses, mas que para isso tinham de lhe poupar a vida. Um estranho apelo contra a pena de morte vindo de quem ordenava o assassinato das famílias dos curdos que colaboravam com a Turquia.
Ocalan acabou mesmo por ser condenado à morte, mas a pena foi comutada para prisão perpétua quando a Turquia começou a criar condições para entrar na União Europeia. Grande parte da pena tem sido cumprida em isolamento, na cadeia de Imrali, situada numa ilha no mar de Mármara, perto de Istambul. Entre 1999 e 2009, a prisão de alta segurança teve apenas um ocupante: Abdullah Ocalan.
Mesmo na cadeia ele continuou a afirmar-se como um importante interlocutor entre turcos e curdos. Em 2002, com a chegada ao poder do partido de Erdogan, foi possível iniciar um processo de negociações. Em 2009 e 2010, em Oslo, houve reuniões entre os dois lados e Abdullah Ocalan apelou aos quadros do PKK para acabarem com a luta armada. Com as conversas em curso, as condições de detenção do líder curdo foram melhoradas.
O processo chegou, no entanto, ao fim em 2015, com uma série de atentados contra militantes pró curdos. Ataques que ainda hoje estão por esclarecer.
Com a guerra na Síria a chegar à fronteira com a Turquia, a repressão por parte das forças militares turcas aumentou e Ocalan voltou ao isolamento absoluto. A família e os advogados foram proibidos de o visitar.
O contacto com o resto do mundo só voltou a ser restabelecido em janeiro de 2019. Pela primeira vez em dois anos, o irmão pode visitá-lo. Já este mês houve manifestações em Istambul a pedir que ele seja retirado da solitária.
Ocalan continua a ser o símbolo da liberdade dos curdos da Turquia. A luta dos curdos por um Curdistão independente terá causado cerca de 40 mil mortos ao longo das ultimas quatro décadas. Os curdos vivem na Turquia, Síria e Iraque e são a maior nação do mundo sem território.