Em julho de 1976 o rei Juan Carlos encarregou Adolfo Suarez de liderar o segundo governo pós-franquismo. Adolfo Suárez foi o vencedor das primeiras eleições democráticas, liderando uma coligação chamada União do Centro Democrático.
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Adolfo Suárez González nasceu em Cebreros, terra natal de sua mãe nas proximidades de Ávila, a 25 de setembro de 1932, no seio de uma família de cinco filhos, pertencente à classe média. A mãe, Hermínia González Prados, era uma senhora muito devota, enquanto o pai, Hipólito Suárez Guerra, jogador e mulherengo, nunca teve uma relação pacífica com a família. O casal, que pouco depois do casamento fixou residência em Ávila, educou os filhos naquela cidade. Concluídos os estudos secundários, Adolfo Suárez foi estudar direito para Salamanca, curso que concluiu com alguma dificuldade.
Em 1955 o jovem Adolfo conseguiu o seu primeiro emprego remunerado, na Beneficência de Ávila, o que lhe permitiu alguma independência familiar, já que o pai fugiu de casa, nesse mesmo ano, na sequência de um escândalo de negócios. Muito marcado pela educação da mãe, Adolfo Suarez conheceu no verão de 1955 Fernando Herrero Tejedor, um influente falangista ligado à Opus Dei, e que viria a tornar-se no seu verdadeiro padrinho político.
Em 1958 deslocou-se para a capital, entrando para o Colégio Mayor Francisco Franco, junto da Cidade Universitária de Madrid. Voltou então aos estudos, e doutorou-se em direito na Universidade Complutense de Madrid. Envolveu-se na política pela mão de Herrero Tejedor, vindo a desempenhar diversos cargos nas estruturas do franquismo, iniciando-se na Secretaria Geral do Movimento. Em 1961 foi nomeado Chefe de Gabinete do Vice-Secretário Geral, procurador nas Cortes por Ávila em 1967, e Governador Civil de Segóvia no ano seguinte.
Em 1969 foi nomeado Diretor Geral da Radiotelevisão Espanhola, cargo que manteve até 1973. Em abril de 1975 foi nomeado Vice-Secretário Geral do Movimento, função que desempenhou até à morte do seu padrinho e mentor político, Herrero Tejedor, falecido num acidente de viação em 12 de junho de 1975. Em 11 de dezembro desse mesmo ano foi nomeado Ministro Secretário Geral do Movimento no Governo de Arias Navarro, formado na sequência da morte do general Francisco Franco.
Um reformista apoiado pela Coroa
O espírito reformista que desde a primeira hora demonstrou no seio do governo de transição tornou Adolfo Suárez numa referência de grande popularidade, colhendo particulares simpatias nos corredores do Palácio Real. Ficou famoso um discurso que proferiu nas Cortes, em 9 de junho de 1976 sobre a defesa da Lei das Associações Políticas, que abriu as portas à legalização dos partidos, nomeadamente do Partido Comunista Espanhol.
Em julho de 1976 o rei Juan Carlos encarregou Adolfo Suarez de liderar o segundo governo pós-franquismo, com o mandato expresso de desmantelar as estruturas franquistas, e unificar e pacificar a vida política espanhola. Suárez assumiu o desafio real, e conseguiu congregar diferentes sensibilidades políticas, tão diversas como ex-falangistas, social democratas, democratas cristãos e liberais em torno de um projeto comum, que ainda envolveu as cumplicidades tácitas dos partidos da esquerda, como o PSOE e o PCE de Santiago Carrillo.
Na sua tarefa de reformador do regime, Adolfo Suárez rodeou-se de experientes e influentes colaboradores, como foi o caso de Torcuato Fernández Miranda que conseguiu sem perturbações a auto-liquidação das Cortes franquistas e abriu caminho à grande reforma política do regime. Nessa mesma tarefa foi ainda determinante a colaboração do tenente-general Manuel Gutiérrez Mellado, a quem coube a difícil tarefa de serenar as altas esferas militares, muito desconfiadas sobre as virtudes da democracia, e ciosas da sua luta vitoriosa na guerra civil.
Duas vitórias em eleições livres
Após mais de quatro décadas de ditadura, os espanhóis puderam, em 15 de Junho de 1977, escolher livremente as Cortes que haveriam de assumir funções constituintes para a elaboração da nova Lei Fundamental do Estado democrático. Adolfo Suárez foi o vencedor destas primeiras eleições, liderando uma coligação de diferentes formações políticas em torno da sigla UCD (União do Centro Democrático). Em 6 de dezembro do ano seguinte a nova Constituição Espanhola foi referendada e aprovada pelos espanhóis.
Três meses mais tarde, em 3 de março de 1979, Adolfo Suárez ganhou pela segunda vez as eleições, desta feita para o Congresso de onde emanou o primeiro governo constitucional pós-franquismo. Suárez iniciou aqui o seu terceiro mandato governamental, ensombrado embora por dois factos políticos que haveriam de ter sérias consequências no futuro do líder da UCD. Primeiro, a sua opção por não apresentar o programa do Governo a debate nas Cortes, o que lhe mereceu fortes críticas e uma brecha no interior da própria coligação. Outro fator a ensombrar esta vitória, cerca de um mês depois, foi a conquista pela esquerda das principais cidades nas eleições municipais, graças a um acordo feito entre socialistas e comunistas.
Não foi fácil o terceiro mandato governativo de Adolfo Suárez. As suas opções programáticas geraram grandes contestações políticas, sociais e económicas. Logo no início da sessão legislativa de 1980 o PSOE apresentou nas Cortes uma moção de censura ao Governo, que, embora derrotada pela maioria parlamentar, fragilizou drasticamente a imagem de Adolfo Suárez não só na opinião pública mas também no interior da coligação. Já em dessintonia política com o Rei Juan Carlos, em 29 de janeiro de 1981 Adolfo Suárez apresenta a sua demissão, afirmando não querer «que o sistema democrático de convivência seja, uma vez mais, um parêntese na história da Espanha».
O ocaso político e um triste fim
Depois de deixar as funções governativas, Suárez foi agraciado pelo Rei com o título "Duque de Suárez". Afastado do poder, ainda criou, juntamente com outros ex-dirigentes da UCD, o partido do Centro Democrático e Social (CDS), com que se apresentou às eleições de outubro de 1982.
Eleito deputado por Madrid, ocupou o seu lugar no Congresso, renovando o mandato nas eleições de 1986 e 1989. Mas nas eleições municipais de 1991, perante os maus resultados conseguidos pelo seu partido, abandonou definitivamente a política. Em 1996 recebeu o "Prémio Príncipe de Astúrias da Concórdia" pelo seu papel na consolidação da democracia espanhola.
Suárez casou com Amparo Illana Elórtegui com quem teve cinco filhos. Durante anos acompanhou com particular dedicação a doença da mulher, que faleceu em 2001 vítima de cancro. Seguiu-se-lhe igual calvário com a filha mais velha, que morreu igualmente de cancro, aos 41 anos, em 2004. Uma segunda filha, apresentadora de televisão, seria igualmente atingida pela mesma doença, quando o próprio Adolfo Suárez já se encontrava fortemente enfermo da doença de Alzheimer.
Revelada publicamente a sua doença por um dos seus filhos, que assim justificou num programa de televisão o afastamento definitivo do pai do convívio social desde 2003, o Rei Juan Carlos visitou-o na sua residência em Madrid, e em 8 de junho de 2007, por ocasião dos 30 anos das primeiras eleições democráticas, nomeou-o cavaleiro da insigne Ordem do Tosão de Ouro, a mais elevada condecoração espanhola, pelo seu papel na transição democrática.
(Fontes consultadas em dezembro de 2013: adolfosuarez.blogspot.pt; plusesmas.com; biografiasyvidas.com/biografia/s/suarez; pt.wikipedia.or; es.wikipedia.org; hola.com/biografias/adolfo-suarez/biografia)