Afeganistão: História de coragem de mulher que por ter sido violada arrisca a pena de morte
É uma história de coragem que chega do Afeganistão. Uma mulher foi violada e arrisca por isso a pena de morte decretada pela tradição tribal, mas desta vez a família e a comunidade reagiram de forma inédita.
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O pesadelo desta jovem de 18 anos começou em maio quando foi levada pela polícia e entregue a um homem que supostamente terá sido ofendido por um parente dela.
Durante cinco dias foi acorrentada a uma parede, violada e espancada.
Lal Bibi é a filha mais nova de uma família kuchi semi-nómada e dedicada ao pastoreio. Têm um dos níveis mais elevados de analfabetismo e seguem um código de honra rígido.
Segundo a lei uma mulher que tenha tido relações fora do casamento, tenha sido forçada ou não, tem de suicidar-se para evitar que a desonra caia sobre a família. Se não o fizer é responsabilidade do pai e dos irmãos matá-la.
Quando voltou a casa, no entanto Lal Bibi foi aceite pela família que a levou ao hospital e apresentou queixa no gabinete do governador de Kunduz.
Perante a lentidão do processo e apoiados por toda a comunidade, incluindo o mulah da mesquita local, recorreram a uma organização de defesa dos direitos das mulheres.
Nesta altura a rapariga está com os pais e com ativistas da Rede de Mulheres Afegãs. Em Cabul já estiveram em contacto com o ministro do interior, o vice-ministro da segurança e o gabinete do presidente Amid Karzai.
Eles acreditam que só se os responsáveis foram julgados é que a vida da jovem está salva. Lal bibi já disse que se não houver resposta das autoridades terá de se imolar porque não quer viver com este estigma toda a vida.
Este é um caso sem precedentes até porque mostra que ao contrário do que é aceite, os afegãos não estão contentes com as normas tribais que regem as vidas fora das grandes cidades.
A família de Lal Bibi não só está a romper com a tradição como está a pôr à prova o compromisso assumido pelo Governo de promover a igualdade e os direitos das mulheres.
Em Kunduz, o homem que violou a rapariga e o irmão que fazendo parte da polícia local facilitou o sequestro foram detidos.
A polícia militar abriu também um inquérito para apurar o papel da polícia em todo este caso.