A comunidade ismaili em Portugal tem apenas entre oito e dez mil crentes, mas o líder religioso Aga Khan vai investir pelo menos 100 milhões de euros no país.
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Aga Khan não é um chefe de Estado, mas vai apertar a mão a Marcelo Rebelo de Sousa esta quinta-feira. O líder espiritual de 15 milhões de muçulmanos ismailis escolheu Lisboa para acolher a sede do Imamato e instalar a primeira academia Aga Khan na Europa. Mas o que significa para o país receber estas duas estruturas?
Antes de mais, 100 milhões de euros. O dinheiro que o príncipe Karim traz para Portugal vai ser investido na instalação da sede e na criação de uma academia - para crianças dos 5 aos 18 anos - que vai receber cerca de mil alunos numa fase inicial.
Para tal, o imã comprou o Palácio Henrique de Mendonça, na Rua Marquês da Fronteira, em Lisboa, por 12 milhões de euros. Mas não é certo que o investimento pare por aqui. O líder religioso é conhecido pelas ações de mecenato e por dirigir uma rede de agências global de apoio aos países em desenvolvimento que atua em 30 países e emprega cerca de 80 mil pessoas.
Porquê Portugal?
Ninguém melhor do que o próprio Aga Khan para explicar os motivos que o levaram a investir em Portugal e a verdade é que, em boa parte, já o fez quando deu uma entrevista à imprensa portuguesa, algo que não é muito habitual.
É sobre essa entrevista, mas não só, que a investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, Faranaz Keshavjee, fala neste artigo e também na entrevista que deu recentemente à TSF.
Faranaz aponta como uma das razões para a instalação da sede do Imamato em Portugal o facto de o país ter, nas palavras do próprio Aga Khan, uma "construção social em funcionamento" ao invés de uma "construção social disfuncional". Para além disso, a investigadora sublinha que apesar de a nação se assumir laica existe "uma vontade política de reconhecer as estruturas de fé".
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A verdade é que as relações entre Portugal e os ismailis já são antigas, apesar de a comunidade ter apenas entre oito e dez mil pessoas no país. A maior parte dos crentes que chegou a solo lusitano depois do 25 de abril veio de Moçambique.
Ainda assim, Faranaz recorda que antes de D. Afonso Henriques se ter tornado rei de Portugal, já os muçulmanos tinham governado o território.
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Para já, Aga Khan vai estar em Portugal de 5 a a 11 de julho, para encerrar as celebrações do Jubileu de Diamante e marcar os 60 anos enquanto líder dos muçulmanos ismailis. No futuro, o imã vai procurar "trabalhar com Portugal as lacunas do entendimento e do conhecimento entre a Europa e o Mundo Islâmico."
As comemorações desta semana devem trazer cerca de 55 mil ismailis. O programa é variado e conta, já esta quinta-feira, com um concerto de Cuca Roseta e Cheb Khaled no Altice Arena.
Aga Khan vai ser ainda recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, em Belém, e discursar na Sala do Senado da Assembleia da República. A cerimónia religiosa com os membros da comunidade acontece no dia 11, na Feira Internacional de Lisboa.