Agustina Bessa-Luís dá nome a biblioteca em Paris: "homenagem" quer aproximar lusodescendentes da cultura portuguesa
Embora o nome já tenha sido adotado, a inauguração da biblioteca Agustina Bessa-Luís só ocorre esta quarta-feira à tarde na presença do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros
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A Câmara de Paris homenageou a escritora portuguesa Agustina Bessa-Luís dando o seu nome a uma biblioteca, numa iniciativa para promover a literatura portuguesa contemporânea e a obra da autora com uma ligação a Paris.
O vereador na câmara da capital francesa, Hermano Sanches Ruivo, em declarações à TSF, nota que "mais logicamente do que uma rua", o executivo concluiu que "uma biblioteca deveria ser o estabelecimento adequado para essa homenagem".
"Temos muitas bibliotecas, que muitas vezes têm o nome da rua onde estão situadas, e, portanto, aqui no 8.º bairro de Paris, passa-se a chamar Agustina Bessa-Luís e é a melhor forma para nós de marcar, dentro do património da cidade de Paris, um nome que já é consequente para Portugal", explica.
Sublinhando que a ligação de Agustina Bessa-Luís a Paris "é evidente", o vereador espera que esta decisão possa aproximar os luso-descendentes a aproximarem-se da cultura portuguesa.
"A sorte que uma cidade como Paris tem é que, quando presta uma homenagem, dá uma visibilidade e oportunidade a todos de usufruírem dessa nova realidade. Os livros de Agustina Bessa-Luís já estão em várias bibliotecas. Muitos filhos nossos, cuja ligação a Portugal possa ser menos real, vão questionar o porquê de Agustina Bessa-Luís e até, eventualmente, quem é Agustina Bessa-Luís e, através disso, descobrir não apenas as obras de uma escritora deste século, mas também, por definição, de uma obra muito mais consequente, que abrange o mundo lusófono", revela.
Agustina Bessa-Luís foi uma importante escritora da literatura portuguesa contemporânea, nascida em 1922, tendo escrito dezenas de romances, como “A Sibila”, biografias, ensaios, contos e peças de teatro e foi membro da Academia Europeia das Ciências, das Artes e das Letras em Paris. Faleceu em 2019 aos 96 anos no Porto.
“A decisão foi tomada no início do ano e a proposta demorou menos do ano a ser estudada, depois foi preciso verificar uma série de coisas, inclusive as ligações com a família e a autorização”, referiu o vereador português, em declarações à Lusa.
Após a decisão, "era importante, sobretudo, encontrar um espaço que correspondesse ao que nós temos como visão sobre o mundo em Paris”, afirmou Hermano Sanches Ruivo, explicando a escolha da biblioteca de Courcelles, anteriormente assim designada segundo a avenida mais próxima, no 8.º bairro de Paris, perto da Rue de Lisbonne e do Consulado português.
A mudança de nome de estabelecimentos ou ruas em Paris para nomes de personalidades que contribuíram de alguma forma para a cidade é algo comum na capital rica em diversidade multicultural.
Hermano Sanches Ruivo apelou assim aos eleitos franceses de origem portuguesa para “sensibilizarem os executivos camarários franceses a também terem justamente um pouco mais de presença do que é português e lusófono”, referindo que se Paris tem uma biblioteca Agustina Bessa-Luís, todas as cidades francesas podem ter uma biblioteca que homenageie escritores portugueses contemporâneos.
Embora o nome já tenha sido adotado, a inauguração da biblioteca Agustina Bessa-Luís só ocorre esta quarta-feira à tarde na presença do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que Hermano Sanches Ruivo considera ser “uma honra”, já que Portugal marca assim “mais presença em território francês e em território parisiense”.
“É uma maneira de dizer: se Paris reconhece a importância, nós, Portugal, queremos também marcar qual é a importância em ter esse reconhecimento em terras francesas”, acrescentou.
Segundo o vereador, este "é também o esforço que é desenvolvido pelas Embaixadas, pelo Instituto Camões, mas também pelas câmaras e por quem nessas câmaras tem uma visão mais alargada sobre Portugal”.
“Fiz sempre um máximo de propostas para que dentro do quadro da Europa (...) houvesse estas homenagens e, se possível, que se inscrevessem diretamente no património parisiense”, disse o primeiro português a ser eleito conselheiro de Paris em 2008, que esteve na origem da primeira placa em homenagem a Amália Rodrigues no 19.º bairro de Paris em 2010.
Desde 2014, foram ainda homenageados com a atribuição de medalhas da Cidade de Paris: Carlos do Carmo, Manuel Cargaleiro, Maria Beatriz Rocha Trindade e as porteiras portuguesas que ajudaram a proteger pessoas durante o ataque terrorista à sala de espetáculos Bataclan (2015).
