No total, há 2033 pessoas a receber esta reforma, espalhadas por mais de 50 países.
Corpo do artigo
Mais de 2000 veteranos de guerra que combateram pela Alemanha nazi continuam a receber pensões pagas pelas autoridades alemãs, mais de 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, admitiu este mês o Governo alemão.
A "pensão de Hitler", como é chamada em alguns jornais, varia entre 425 e 1300 euros por mês, segundo o "Bild".
No total, há 2033 pessoas a receber esta reforma, espalhadas por mais de 50 países, das quais 1532 estão a viver na Europa e 435 são de nacionalidade alemã.
Os números, que dizem respeito ao mês de fevereiro, foram divulgados pelo Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais alemão, que revelou à agência France-Presse que eliminar a atribuição destas pensões não está, por agora, na agenda.
O Governo de Angela Merkel também não avança quantas pessoas já receberam estas reformas.
O caso foi revelado a 20 de fevereiro, na Bélgica, quando o parlamento aprovou, depois da proposta do presidente do partido centrista DéFI, uma resolução para rescindir o pagamento de reformas de invalidez a cerca de duas dezenas de veteranos da Segunda Guerra Mundial que colaboraram com a Alemanha entre 1939 e 1945.
No documento, aprovado pela maioria, pode ler-se que o pagamento de pensões "por colaboração com um dos regimes mais assassinos da história, está contra a memória coletiva" e contra os valores da União Europeia.
De acordo com o jornal "Le Monde", os deputados pediram uma parceria entre a Bélgica e Alemanha para esclarecer o caso, que pode envolver cerca de 80 mil cidadãos belgas.
Em 1941, com o objetivo de aumentar o volume dos militares do seu exército, Hitler tentou que o maior número de voluntários se alistasse, procurando pessoas nos países ocupados.
A quem se juntasse era garantida a nacionalidade alemã e uma pensão de invalidez, em caso de ferimentos em combate.
A conferência de Potsdam, que se celebrou em 1945, no final da guerra, anulou muitos decretos de Hitler, mas não os que estavam ligados às reformas por invalidez.
Com a instauração da República Federal da Alemanha, em 1949, Bona continuou a pagar aos antigos colaboradores estrangeiros do nazismo.
Uma lei de 1950 redefiniu as cláusulas para poder ter direito a estes benefícios: ter sido ferido durante a guerra e não ter sido condenado por crimes de guerra.
A legislação sofreu novas adaptações em 1998 e, desde 2008, cada estado federado alemão é livre de retirar estas pensões, se assim o desejar.
Em entrevista à agência France-Presse, o especialista em relações belgo-alemãs da Universidade do Luxemburgo, Christoph Brüll, admitiu que há "uma área cinzenta" porque, na altura, os crimes de guerra não eram verificados a fundo e os critérios de deficiência (causados pela guerra) ainda permanecem bastante amplos.
Rüdger Mahlo, representante na Alemanha da Jewish Claim Conference (JCC) já lamentou o facto de "durante décadas, os criminosos de guerra nazis estarem a receber pensões de guerra, enquanto os sobreviventes do Holocausto precisam de décadas para serem compensados".
Em 2016, os deputados belgas também tentaram que Berlim fornecesse a lista dos beneficiários da "reforma de Hitler", mas sem sucesso.
Na lista dos beneficiários desta pensão está a Polónia, com 573 casos, seguindo-se a Bélgica, com 373 e os Estados Unidos com 250.
Em 2015 este tema também já tinha sido alvo de polémica, depois de o Governo alemão ter admitido continuar a pagar reformas a antigos militares espanhóis, depois de um acordo celebrado entre Hitler e Franco.
Depois da questão levantada pelo partido "Die Linke", o executivo alemão reconheceu ter pago cerca de 100 mil euros aos espanhóis que se inscreveram na Divisão Azul que lutou contra o Exército Vermelho, entre 1941 e 1944.