Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, considera que não houve uma "avaliação de impacto ambiental suficientemente abrangente" e refere que "a diluição não é solução para a poluição".
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O Japão anunciou que as águas residuais radioativas tratadas e diluídas da central nuclear de Fukushima Daiichi serão lançadas no oceano a partir de quinta-feira. Ouvido pela TSF, o presidente da associação ambientalista Zero,
Francisco Ferreira, considera que existem motivos para preocupações.
"Efetivamente há motivos para preocupações por parte dos pescadores, dos países próximos no Oceano Pacífico e também daquilo que são vários relatores das Nações Unidas que têm levantado questões sobre um conjunto de impactos, nomeadamente impactos biológicos de elementos presentes na água que vai ser libertada a partir de quinta-feira, como a presença de trítio, de carbono 14 ou de estrôncio 90, e não ter realmente havido uma avaliação de impacto ambiental suficientemente abrangente", explica Francisco Ferreira.
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O presidente da Zero refere ainda que "uma das grandes denúncias é que este plano de descomissionamento da central de Fukushima tem estado longe daquilo que seria desejável e que estava previsto".
Para Francisco Ferreira, a proibição de alguns alimentos pode ser justificada.
"É uma questão bastante difícil de avaliar, precisamente porque nós não conhecemos os impactos e claro que poderei usar argumentos como o princípio da precaução, mas quando nós colocamos um grande volume de água no oceano, nós estamos a contaminá-lo mais tarde ou mais cedo como um todo. Há aqui uma lógica muito importante: a diluição não é a solução para a poluição e eu diria que essa é uma posição que pode ser justificada mais que não seja porque realmente muitos dos impactos que deveriam ter sido estudados não foram, mas é efetivamente uma posição bastante extremada e conflituosa", acrescenta.
A libertação de água começa quase 12 anos e meio após a fusão nuclear de março de 2011, causada por um forte terramoto e tsunami.
A central de Fukushima Daiichi deverá, no início de 2024, ficar sem espaço para armazenar cerca de 1,33 milhões de toneladas de água, proveniente de chuva, água subterrânea ou injeções necessárias para arrefecer os núcleos dos reatores nucleares.
Tanto o governo japonês como a TEPCO alertaram que a água deve ser removida, para evitar fugas acidentais dos tanques.
Apesar de ter sido aprovado pela Agência Internacional de Energia Atómica, o plano levantou preocupações nos países vizinhos, provocando protestos de rua na Coreia do Sul e levando a China a proibir a importação de alguns alimentos de dez províncias do Japão.
No final de junho, o comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês em Macau criticou o plano japonês, classificando-o de irresponsável e de violar o direito internacional.
O Governo da Coreia do Sul tem realizado vários testes para demonstrar às pessoas que não há risco de contaminação ambiental ou de alimentos devido às descargas de Fukushima.