Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - UM TIPO DECENTE
Joe Biden não é Barack Obama. Mas Joe Biden foi número dois de Barack Obama. Um problema e um trunfo que o nomeado presidencial democrata vai ter que saber gerir até novembro. E, ainda assim, Joe tem mais vantagens do que, numa primeira análise, poderia parecer. Depois de quatro anos de degradação da figura presidencial, por culpa de um comportamento indesculpavelmente irresponsável de Donald Trump, talvez o eleitorado moderado e oscilante de vários estados dos EUA aprecie o estilo sólido, respeitador e centrista de Joe Biden. Não se lhe pede que seja o suprassumo da retórica ou o candidato mais brilhante ou inspirador. Só o facto de poder ser um Presidente decente, digno, moderado, respeitador das instituições, a contribuir para o regresso dos consensos bipartidários, a segurar o que for possível do que Trump quis destruir da América no exterior (Acordo de Paris, relações com os aliados europeus) já será precioso. Não se espere que altere tudo (o punho firme com a China, por exemplo, é para manter, mesmo numa presidência democrata). Mas não voltar a fazer as figuras tristes que Trump fez ao lado de Kim Jong-Un, por exemplo, já não era mau. Menos brilhante que Obama e menos preparado que Hillary, Joe pode vir a ser a improvável solução ideal, ainda que acidental, para responder ao que verdadeiramente está em jogo nos próximos 100 dias. A chave para o sucesso de Joe Biden pode ser estranhamente modesta: ser apenas um tipo decente.
2 - UMA VÉNIA A CHRIS WALLACE
Nem tudo são más surpresas no conturbado e geralmente ruidoso meio político-mediático americano. A entrevista de Chris Wallace a Donald Trump foi a prova de que a FOX News até pode ter ilhas de seriedade, bom jornalismo e verificação. O jornalista fez as perguntas certas, soube confrontar, encostou o Presidente às cordas. Wallace teve um desempenho que o dignifica enquanto profissional, recusando-se a alinhar no jogo Fox News/Donald Trump que, nos últimos anos, tem tido benefícios mútuos e uma péssima relação com a verdade. Trump chegou a ficar sem resposta, insistiu de forma pobre e infantil na ideia de que não gosta de perder, não quer perder e se perder é porque foi roubado. "Recusar resultados eleitorais vai contra a tradição dos candidatos presidenciais na América", lembrou Chris. Falta saber em quem mais se reveem os espectadores da FOX. Será que muitos deles olharam para Wallace e viram apenas um jornalista insolente que desrespeitou o Presidente? É que é muito essa a narrativa trumpiana: a de pôr no lixo a importância do jornalismo numa sociedade democrática. Desgraçadamente, milhões de americanos acham que é o Presidente (e não os bons jornalistas) quem tem razão. Ainda haverá esperança para isto?
UMA INTERROGAÇÃO: Vão os democratas da ala esquerda, que em 2016 não se mobilizaram de forma maciça na eleição geral depois de Hillary se ter imposto a Sanders na nomeação, voltar a correr o risco de, por omissão, contribuírem para nova eleição surpresa de Trump?
UM ESTADO: Arizona.
Resultado em 2016: Trump 48,1%-Hillary 44,6%
Resultado em 2012: Romney 53,5%-Obama 44,5%
Resultado em 2008: McCain 53,4%-Obama 44,9%
Resultado em 2004: Bush 54,8%-Kerry 44,3%
- O Arizona tem 7 milhões de habitantes: 54% brancos, 32% hispânicos, 5% negros, 4% asiáticos; 50,3% mulheres
11 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Arizona -- Biden 51/Trump 45
(CNBC/Change Research, 10-12 julho)