Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - TENHA PACIÊNCIA, DOUTOR FAUCI. Anthony Fauci é, nos dias que correm, uma das pessoas mais credíveis e respeitadas da América. Donald Trump tem tido, ao longo destes sete meses de pandemia, uma relação ambígua com o epidemiologista-chefe da task force que apoia o Governo americano: muitas vezes tem-no colocado na posição de ser demasiado prudente no que toca às medidas sanitárias, noutras tem-no avalizado. Isso revela também o discurso paradoxal de Trump durante a pandemia: começou por desvalorizar, chegou a estar perto de negar, agora assume o problema, mas insiste em desdenhar quem toma as devidas precauções (Joe Biden que o diga). Com isso, Trump consegue energizar parte da sua base negacionista - mas também conseguirá gerar empatia de uma parte do eleitorado que acusa cansaço em relação à pandemia e a procedimentos como o uso da máscara. Isso é uma coisa. Outra é utilizar de forma abusiva a imagem e declarações do dr. Fauci em anúncios de campanha. Trump pôs Fauci a lançar elogios rasgados no combate à pandemia... mas não era para o candidato-Presidente. Era mesmo para os profissionais de saúde na frente de combate. As declarações foram descontextualizadas e no vídeo parece que Fauci está a desfazer-se em encómios sobre Trump. "Abuso e mentira!", acusou Fauci, indignado. Mas a campanha Trump não retirou Fauci do vídeo. E, dias depois de tentar apontar Fauci como um exemplo, mesmo que de forma abusiva, Trump mudou radicalmente e insultou o respeitado infeciologista por dizer a verdade. Acusou-o de "estar lá há 500 anos", tentou atirar-lhe as culpas para os falhanços da gestão da pandemia. "É um desastre", disse Trump sobre Fauci. "As pessoas estão fartas de ouvir o Fauci e todos esses idiotas. Todos os dias que ele vai à televisão, há sempre uma bomba. Mas haveria uma bomba ainda maior, se o despedissem. Mas o Fauci é um desastre". Isto é o Presidente dos EUA a falar sobre o mais respeitado membro da task force que combate a pandemia. Sim, é preciso mesmo muita paciência, dr. Fauci.
2 - "CRIMINOSOS!" Crescem os sinais de desespero da campanha Trump. Donald, ontem, à chegada ao Arizona, para um jornalista que o questionou ainda na pista em que o Presidente acabara de aterrar: "Biden é um criminoso. Um criminoso! Há muitos anos!! E você é um criminoso por não reportar isso!! Você e os media!!! Biden é criminoso e os media são criminosos!!!" Mais uma vez: pode render junto da base fanática. Tenho muitas dúvidas de que este tom, este registo, este desligamento total da realidade colha perante os indecisos (que são poucos) e junto do eleitorado menos polarizado. Entre a energização pelo ódio e a raiva e o custo que isso pode ter na saturação de segmentos que ainda podem mudar o seu voto até 3 de novembro, veremos qual será o saldo de ganhos e perdas desta nova investida furiosa e conspirativa do candidato à reeleição.
UMA INTERROGAÇÃO: Será que as críticas aos media vão voltar a colar?
SONDAGEM | Pensilvânia: Biden 49-Trump 45 (Reuters/Ipsos, 13/19 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas
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