Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - HAVERÁ MESMO UMA "ESPIRAL DO SILÊNCIO"? Será que há mesmo um núcleo de uns cinco por cento de eleitores que tem medo ou vergonha de dizer nas sondagens que vai votar em Trump? Se isso em 2016 pode ter tido algum peso, será que faz sentido pensar numa repetição desse fenómeno em 2020, com Trump na Casa Branca há quatro anos?
José Alberto Lemos, jornalista especializado na política dos EUA, tem dúvidas: "Poderá haver um pequeno efeito, mas também podemos pensar desta vez que pode haver republicanos desiludidos com Trump que nas sondagens terão reservas em assumir que vão votar Biden ou, simplesmente, não vão votar".
Mas então, atendendo às sondagens, estas eleições estão decididas? Não tão depressa. "Essa espiral pode ser maior do que estamos a imaginar, embora não me parece provável".
E pode, por exemplo, acontecer alguma coisa a Biden. José Alberto Lemos destaca "a possível mudança de voto dos mais velhos em estados como a Florida, como consequência da gestão que Trump fez da pandemia."
E se Trump voltar a ganhar no Colégio Eleitoral mesmo tendo menos votos que Biden a nível nacional? "Não acho que isso vá mudar nada de essencial. O sistema eleitoral americano parece inamovível", aponta.
Em caso de derrota clara de Trump, José Alberto Lemos antecipa "o fim do essencial do Trumpismo". "Mas se for uma derrota curta pode restar uma resistência significativa", ressalva o jornalista, que nos últimos anos, residiu em Nova Iorque.
E um Biden Presidente corre o risco de estar dependente da ala esquerda? "Não será tributário do apoio dessa ala. Joe Biden nunca deu mostras de ser um esquerdista. Com Kamala deu sinal de ser um centrista moderado. Diria que estará ligeiramente à esquerda de Obama na capacidade de poder apresentar propostas legislativas um pouca mais ousadas, em áreas como a Saúde ou o Clima".
E se Biden perder?
"Aí sim, poderemos antecipar uma esquerdização do Partido Democrático", avisa José Alberto Lemos. "Haverá um risco sério de radicalização da esquerda americana".
2 - 100 MILHÕES ATÉ À ELEIÇÃO. A este ritmo, a fasquia do "early vote" deve mesmo atingir este número mágico e absolutamente recorde. Mais de 85 milhões até sexta à noite. No Texas já tinham votado mais (9 milhões) até sexta de manhã do que em toda a eleição 2016 (8,6 milhões). Sinais claros de grande participação eleitoral, sobretudo em segmentos como os jovens, os negros, as mulheres e os votantes pela primeira vez. Eleitores entre os 20 e os 29 anos estão a aparecer em número muito elevado em estados como Florida, Texas, Ohio, Geórgia e Carolina do Norte e Michigan.
Mais de seis milhões de eleitores abaixo dos 30 anos já votaram antecipadamente - mais do triplo do que tinha acontecido em 2016 em período análogo.
No Texas já houve, em voto antecipado, tanta participação como em todo o processo eleitoral de há quatro anos. Na Geórgia, os negros estão a votar quase quatro vezes mais que há quatro anos. Tudo indica que isso são muito boas notícias para Joe Biden. Mas teremos que aguardar. No voto antecipado Biden está a ganhar por larga margem, mas prevê-se que Trump ganhe nos votos no dia da eleição.
Se os votos por correspondência não forem contados a tempo, preparem-se para uma grande confusão.
UMA INTERROGAÇÃO: Que peso no total dos votos expressos terá a votação antecipada, desta vez?
ESTADOS DECISIVOS
FLORIDA: Biden 50-Trump 47 (The Hill/HarrisX, 26 a 29 out)
MICHIGAN: Biden 52-Trump 42 (MIRS/Mitchell Research, 25 a 27 out)
IOWA: Trump 47-Biden 46 (Quinnipiac, 23 a 27 out)
NEVADA: Biden 49-Trump 43 (NYT/Siena, 23 a 26 out)
NEW HAMPSHIRE: Biden 52-Trump 44 (PPP, 23 e 26 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas