Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - "QUANTO PIORES ELES SÃO MELHOR ME DOU COM ELES". Um dos aspetos mais perturbadores neste mandato presidencial é a tendência de Trump de se dar bem com líderes muito pouco recomendáveis e destratar aliados permanentes dos EUA (nomeadamente nós, europeus). No livro "Rage" (Raiva), de Bob Wooward, isso está destacado. "Quanto piores eles são melhor me dou com eles", confessou Trump a Woodward, numa das 17 conversas gravadas que teve com o autor (noutra viria a confessar que já sabia desde fevereiro da gravidade da ameaça do novo coronavírus, mas que preferiu esconder da população para não criar o pânico). "E com os bons não me entendo", disse Trump. Isso mesmo: a gente já desconfiava, mas é o próprio a admitir - o atual Presidente dos EUA sente-se bem com os líderes autoritários e ditatoriais e sente-se peixe fora de água ao lidar com os líderes democráticos. Opções, feitios e escolhas. Do eleitorado também.
2 - MAIORIAS REAIS E MAIORIAS QUE CONTAM. Os 50 estados dos EUA têm características muito diferentes. Uma boa parte deles tem uma dimensão populacional não muito diferente de Portugal - algures entre 7,5 e 12 milhões de habitantes. Há, no entanto, quatro deles com uma população muito superior a todos os outros: Califórnia, Texas, Nova Iorque e Florida. Para compreendermos a questão da dualidade entre democratas a terem geralmente mais votos a nível nacional vs republicanos competitivos no Colégio Eleitoral, temos que olhar para o seguinte: dois dos três estados mais populosos dos EUA, Califórnia e Nova Iorque, têm uma fortíssima maioria democrata. E isso leva a que o nomeado presidencial democrata possa ter, só nesses dois estados, uma vantagem que pode ir aos 5 milhões de votos. Outro, o Texas, tinha uma grande maioria republicana, que tem vindo a esbater-se, pelas características demográficas das maiores cidades texanas. Nos últimos anos, Houston, Dallas, Austin, San Antonio e El Paso tornaram-se cidades com grandes maiorias democratas. No todo do estado, o Texas continua a ser tendencialmente republicano, graças aos condados rurais, mas por muito pouco. Quanto à Florida, é um estado empatado: tem muitos democratas, mas também muitos republicanos. Ou seja, no global dos quatro estados mais populosos, é muito provável que Biden tenha muito mais votos que Trump. Mas isso nada nos diz em relação à vitória no Colégio Eleitoral. A lógica dos "battleground states" é decidida por poucos milhares de votos. Apesar de diferenças de alguns milhões, a favor dos democratas, nos estados maiores.
UMA INTERROGAÇÃO: Haverá o risco de Joe Biden vencer o voto popular por uma grande diferença mas Donald Trump ganhar à justa o Colégio Eleitoral?
ESTADOS DECISIVOS
Wisconsin: Biden 46-Trump 41 (Marquette, 1/4 out)
Michigan: Biden 52-Trump 42 (Emerson, 6/7 out)
Pensilvânia: Biden 50-Trump 45 (Emerson, 6/7 out)
Arizona: Biden 51-Trump 44 (CNBC/Change Research, 2 a 4 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas