Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - KAMALA E PENCE MELHORES QUE OS SEUS NÚMEROS 1. O debate de Cleveland, entre Trump e Biden, foi tão mau que perderam os dois. O debate de Salt Lake City, entre Kamala e Pence, foi inesperadamente ordeiro e produtivo: ganharam os dois. É verdade que Mike abusou da técnica de não responder às perguntas e ir por onde lhe desse mais jeito e, demasiadas vezes, excedeu o tempo. Mas nada a ver com o circo caótico que ocorreu entre os nomeados, por culpa do "bully" de Donald e a incapacidade de Joe de não ser arrastado para a lama. Os "vices" mostraram ser politicamente mais preparados que os seus números 1 - mas também fizeram questão de nunca passar a linha da lealdade: nem Kamala nem Mike tentaram dar qualquer sinal de que poderão ser, eles próprios, os candidatos principais em 2024. Kamala atacou forte, em tom controlado e, por vezes, subtil. Sobre a vacina disse que "se for Fauci a dizer para tomar, serei a primeira da fila; se for Trump, fujo". "Trump não sabe o que é ser honesto", atirou a senadora da Califórnia. "Vocês perderam a guerra comercial com a China e criaram desemprego na América com isso", apontou. E sobre a Economia: "Para o Presidente Trump, a forma de medir se ela está bem é ver se os ricos estão a safar-se". Mas Pence também teve momentos bons. Encostou Kamala às cordas, ao exigir que garantisse que os democratas não estão a preparar uma alteração no número de juízes do Supremo (Kamala tentou desconversar e nunca conseguiu desmentir). E alinhou-se no discurso clássico do conservadorismo fiscal, acusando os democratas de "tenderem para subidas de impostos em quase tudo". Nuno Gouveia, especialista em política americana, classificou assim o debate, em declarações à Lusa: "Foi uma espécie de pausa para respirar, no meio de uma campanha presidencial caótica, dominada pela personalidade irascível e indisciplinada de Donald Trump". Pareceu um debate clássico de tempos normais. Até agora, não tinha havido condições para isso.
2 - "BENÇÃO DE DEUS", DIZ ELE. Uma "bênção de Deus", o vírus? "Gimme a break", Donald. Isso é um insulto aos quase 220 mil norte-americanos que morreram. Donald Trump (ainda) é Presidente dos EUA. Há limites.
UMA INTERROGAÇÃO: Será que a história de 2016 (quase todos a anteciparem derrota Trump; Trump a ser eleito) pode repetir-se em 2020?
UMA SONDAGEM: Biden 52-Trump 40 (Reuters/Ipsos, 2 a 6 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas