Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - TRUMP E A CONFIANÇA PERDIDA. Nunca confiei muito na tese de que "toda a gente que votou Trump o segue de forma fanática e acrítica". Isso acontecerá com uma parte importante do seu eleitorado, mas em vários momentos desta presidência bizarra se percebeu que, quando Trump se comportou de forma inaceitável, viu reduzir ao mínimo esse tal núcleo de apoio indestrutível. Foi assim após Charlotesville, no verão de 2017 (quando fez equivaler os supremacistas brancos racistas com a esquerda radical). Foi assim quando teve posicionamento muito idêntico neste verão, no auge dos protestos pela morte de George Floyd. Trump é o Presidente que se diz ser da Lei e da Ordem, mas não respeita regras básicas de um debate. Que faz tudo para contornar a lei e pagar menos impostos - e até se gaba disso. É uma Lei e Ordem muito peculiar: a Lei e Ordem para aplicar só quando lhe dá jeito. As últimas sondagens (Biden +16 na pesquisa CNN feita após debate e após infeção presidencial pelo novo coronavírus) sinalizam uma certa saturação do eleitorado flutuante nesta forma caótica, incoerente e irresponsável de se comportar (sem respeito por regras básicas e ignorando o sofrimento de centenas de milhares de americanos, que, supostamente, deveria proteger e representar). Trump terá perdido a confiança de uma parte muito significativa dos eleitores americanos. Como disse Michelle Obama no seu "closing argument" gravado em vídeo sobre esta eleição: "Simplesmente não podemos confiar que este Presidente nos diga a verdade seja sobre o que for. Trump é racista e semeia o medo e a confusão".
2 - "O HOMEM ERRADO PARA O CARGO". Bob Woodward escreveu dois livros sobre Trump e a sua presidência num espaço de dois anos. Depois de "Fear" (Medo), agora "Rage" (Raiva). Teve acesso privilegiado ao Presidente, que para este livro mais recente preferiu contribuir, possivelmente para tentar condicionar, falando com o autor por várias vezes (às horas mais insuspeitas). Woodward, um dos autores do "Watergate" que levaria à demissão de Nixon nos anos 70, ficou com um retrato arrasador do inquilino da Casa Branca, pretendente a segundo mandato: "É o homem errado para o cargo", comentou a Fareed Zakaria, no GPS. "É uma conclusão a que cheguei baseado em provas esmagadoras. Passei quatro anos e meio a analisar Trump. Vemos como ele opera. A falta de planeamento. A falta de estratégia. As ações impulsivas. Não há organização. As suas palavras cruéis em relação a pessoas que serviram em altos cargos do seu Governo, desde o procurador-geral Sessons a Tillerson, secretário de Estado, até Mattis, claro. O general James Mattis... Sobre ele, Trump diz que é só um "relações públicas"! Bem, quer gostemos ou não de Mattis, temos que concluir que ele não é um "PR guy", ele é um dos militares mais sérios e credíveis que alguma vez serviu uma administração americana. Trump destruiu a noção de algum tipo de organização e gestão".
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Donald Trump conseguir desenvencilhar-se da teia de caos em que se meteu, ainda a tempo de reentrar na luta pela vitória nesta corrida?
UMA SONDAGEM: Biden 57-Trump 41 (CNN Poll, 1 a 4 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas