Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - SER PRESIDENTE E TER O DISCURSO POPULISTA DE QUEM VEM DE FORA. Há quatro anos, Trump foi o candidato anti-establishment que veio de fora da política e disse mal de todos os que estiveram no poder. Mas... agora é Presidente há quatro anos, certo? Será que o discurso dos desesperados continua a colar, depois de quatro anos sentado no poder? Continua, para a base cega e fervorosa. Mas isso não chega para ganhar a eleição. Como é que pode continuar o "underdog anti-sistema", quando esteve quatro anos na Casa Branca? Os últimos números parecem comprovar as dificuldades que Trump está a ter para manter essa narrativa junto de uma quantidade de eleitores suficiente para ganhar. Os 69% de americanos (sondagem CNN) que censuram o comportamento do Presidente desde que se soube que está infetado com o novo coronavírus parecem provar esse problema. Não dá. Não dá mesmo. Sorry, Donald.
2 - O APELO DA MENSAGEM COM TRAÇOS RACISTAS TEM MENOS TRAÇÃO EM 2020. Trump nunca se assumiu racista, mas tem, claramente, uma parte da sua base que é energizada com mensagens de pendor racista. Flirta com supremacistas brancos (veja-se o que disse no debate com Biden sobre os Proud Boys), que nestes quatro anos de presidência Trump se sentiram legitimados, depois de décadas à sombra de uma margem. Mas em 2020 é muito duvidoso que esta colagem vá ser eleitoralmente benéfica a Trump. Em 2016, isso, de facto, aconteceu. Em 2018, já nem tanto: a dramatização da "caravana" de imigrantes ilegais que iriam supostamente invadir os EUA com pessoas da América Central (Honduras, Guatemala, El Salvador, os "shithole countries", nas palavras do Presidente dos EUA) não funcionou e os republicanos perderam por larga margem a corrida à maioria na Câmara dos Representantes. Foi um primeiro sinal. Neste verão, por junho, Trump teve um mínimo de aprovação e de apoio, ao ficar a 15 pontos de Biden no auge dos protestos antirracistas nas mais de uma centena de cidades americanas, após a morte de George Floyd. Mais recentemente, a tese de que o discurso "Lei e Ordem" iria beneficiar Trump durante os "riots" em Kenosha (Wisconsin) e em Portland (Oregon) também não se confirmou. Biden, nas últimas semanas, subiu nesses estados. Não será pelo apelo racista que Trump conseguirá a reeleição.
UMA INTERROGAÇÃO: A ideia sistema vs antissistema resistirá a quatro anos de presidência Trump?
UMA SONDAGEM: Biden 51-Trump 43 (JTN/RMG Research, 1 a 3 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas