Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - SERÁ BIDEN UM CANDIDATO ASSIM TÃO FRACO? Nomear um candidato com quase 78 anos para arco temporal que pode ser de oito destaca-se por si mesma. Mas será Joe Biden um candidato assim tão fraco? Como senador, durante quase quatro décadas, montou uma rede parlamentar notável, formada pelo essencial dos democratas, mas também com pontes com os republicanos. Eram outros tempos - o tempo em que era possível pensar a política americana de forma bipartidária. Joe bateu-se pela classe média, definindo-se como um "tipo normal que ia todos os dias de comboio de casa para o trabalho". Trump sabe que essa ligação de Biden ao americano real é uma verdadeira ameaça à sua aposta de conexão no eleitorado do Midwest. Mas Biden é muito mais do que isso. Foi um fiel número dois de Obama numa Casa Branca tão diferente da atual. Assumiu papéis relevantes nas negociações com o Congresso. Evitou "shutdowns", negociou orçamentos. Numa frase: fez política. Não é brilhante, mas é confiável. Numa era de discursos extremados, uma vitória Biden será a última oportunidade que os americanos pretendem dar à moderação e ao centrismo. Mesmo que essas noções continuem a estar em risco de extinção.
2 - O ESTADOS DOS ESTADOS NESTA CORRIDA. Há 12 a 14 estados que irão decidir esta eleição, uma vez que nesta fase ainda têm o triunfo em aberto. É bem provável que Trump acabe por ganhar o Texas, a Geórgia e o Iowa. É de admitir que também possa vencer o Ohio e a Carolina do Norte (embora, nesta fase, isso esteja muito longe de ser uma garantia). Por outro lado, é muito provável (quase certo, diria) que o Minnesota, o Nevada, o New Hampshire, o Colorado e a Virgínia vão para Joe Biden. Ambas as candidaturas estarão a contar com tudo isto, independentemente do que os seus candidatos estiverem a dizer em público. Haverá cinco estados mais importantes que os outros: Florida, Arizona, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. A Florida já teve enorme avanço de Biden, está agora empatada. O Arizona mantém surpreendente vantagem de Biden, que aparece à frente em quase todas as sondagens nos últimos dois meses, apesar de ser um estado que nas últimas quatro décadas só por uma vez votou num democrata. Mesmo assim, vamos admitir que Trump acabe por ganhar Florida e Arizona (também nada certo neste momento). Assim, os três estados decisivos podem acabar por ser os que foram há quatro anos: os três da "Rust Belt". O Wisconsin, onde Trump interrompeu há quatro anos sólida tendência de vitória democrata, mostra avanço claro de Biden. No Michigan, também Biden à frente por mais de cinco pontos. Mas ambos os casos estão ainda em aberto. Ou seja, se tivermos que apontar o mais relevante de todos os estados relevantes será a Pensilvânia: se Biden perder lá, dificilmente ganha a eleição. Se Trump falhar a repetição do triunfo na Pensilvânia, terá a reeleição muito complicada. Em 2016, Trump bateu Hillary na Pensilvânia por apenas 43 mil votos, num universo de mais de seis milhões de votantes! Nas seis eleições anteriores a 2016, o nomeado democrata ganhou na Pensilvânia. Hillary ganhou largamente as maiores cidades do estado (Filadélfia, Pittsburgh, Allentown, Harrisburg), mas Trump arrasou nos condados rurais e com menos população.
UMA INTERROGAÇÃO: Será que Joe Biden vai conseguir ganhar a Florida?
UMA SONDAGEM: Biden 53-Trump 39 (NBC/Wall Street Journal, 29 set/1 out)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas