Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - E, DE REPENTE, TUDO MUDA. O debate foi horrível, Trump está 13 pontos atrás nas sondagens (54/41, CNBC/Change Research, 29/30 setembro), era preciso que algo de muito impactante acontecesse para virar o jogo. Aconteceu. O Presidente e a Primeira Dama estão infetados com o coronavírus, deram positivo, depois de terem estado em contacto com a assessora Hope Hicks, que se tinha sentido mal e também está infetada. Trump está no grupo de risco, tem 74 anos, tem peso a mais. Ficará de quarentena duas semanas, metade do tempo que falta para a eleição. O fim da quarentena bate exatamente em cima do segundo debate Trump/Biden (15 de outubro, em Miami), que no mínimo passa a estar em risco. O Presidente que desvalorizou a ameaça da pandemia está infetado. Já tinha acontecido com Bolsonaro. Aconteceu também com o PM Boris Johnson, um caso diferente. E agora? Agora o jogo vira. Esperava-se que Trumpi fizesse campanha muito presencial e Biden uma campanha virtual. Nos próximos dias talvez seja ao contrário: Trump em casa, Biden a bater à porta dos eleitores indecisos dos estados indecisos (já tinha mudado de estratégia há dois anos). Trump está atrás nas sondagens, mas não devemos descurar o efeito de compaixão que algum eleitorado tem em relação a candidatos sob inesperadas fragilidades. Para lá de tudo isso, é mais um motivo para acharmos que esta é mesmo a eleição da pandemia.
2 - A VULNERABILIDADE DO ELEITORADO BIDEN. Joe Biden tem um eleitorado tendencialmente maioritário (muito pelo que foi explicado acima e também porque há mais americanos a desejar que Trump não faça um segundo mandato do que os que desejam que esse segundo mandato ocorra). Mas é também um eleitorado mais vulnerável. Trump tem um eleitorado mais fixo, fiel e mobilizado: 97% de quem diz nas sondagens que tenciona votar Trump pretende fazê-lo "por Trump"; com Biden isso só acontece como 70%. O principal motivo de muitos possíveis votantes Biden não é o candidato mas o desejo de impedir a vitória do adversário. Depois, a vulnerabilidade tem a ver com a forma de votar. Os eleitores Trump tencionam fazê-lo, maioritariamente, de forma presencial. Temem menos o coronavírus e têm mais ligação aos locais de votos. Uma parte significativa do eleitorado Biden conta votar à distância, por correio - e isso implica um mundo de riscos e problemas. Por fim, Biden lidera em dois segmentos que tradicionalmente votam em menor quantidade: os jovens e os mais velhos. Trump parece melhor em segmentos em idade ativa, que geralmente estão mais ligados à participação eleitoral.
UMA INTERROGAÇÃO: Que efeitos eleitorais terá o teste positivo à Covid-19 por parte de Donald Trump?
UMA SONDAGEM: Biden 54-Trump 41 (CNBC/Change Research, 29/30 setembro)