Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - A CASA BRANCA AINDA TEM CURA?
risco de divisão na sociedade americana é tão claro que sobram dúvidas sobre se ainda será possível acreditar num pós eleições com capacidade curativa. A próxima Casa Branca sofre a séria ameaça de ter quase metade do país não só contra ela mas plenamente convicta de que o seu candidato, que perdeu, devia ter ido para lá, em vez do Presidente que tomou posse. Só um conjunto de circunstâncias muito felizes e, neste momento, pouco prováveis poderá impedir que tal aconteça. Quatro anos de uma presidência disruptiva e desrespeitadora das instituições deram nisto: da Casa Branca esperávamos propensão para unir e sarar feridas; mas passámos a olhar, com perplexidade, para sinais divisivos e muito e profundamente irresponsáveis. É, até, um pouco ingénuo achar que isso não teria consequências. Claro que tem. Os próximos meses podem mostrar-nos algo ainda pior.
2 - OLHEM PARA A PENSILVÂNIA
Há uns 12 a 14 estados que irão decidir esta eleição, uma vez que nesta fase ainda têm o triunfo em aberto. Entre eles, já se notam algumas tendências sólidas: é bem provável que Trump acabe por ganhar o Texas, a Geórgia e o Iowa. É de admitir que também possa vencer o Ohio e a Carolina do Norte (embora estes dois últimos mostrem Biden perfeitamente bem colocado para também vencer nesta fase). Por outro lado, parece provável que o Minnesota, o Nevada, o New Hampshire, o Colorado e a Virgínia vão para Joe Biden. Nesta fase, ambas as candidaturas estarão a contar com tudo isto, independentemente do que os seus candidatos estiverem a dizer em público. Haverá, assim, cinco estados mais importantes que os outros: Florida, Arizona, Michigan, Wisconsin e Pensilvânia. A Florida já teve enorme avanço de Biden, está agora empatada. O Arizona mantém uma surpreendente vantagem de Biden, que aparece à frente em quase todas as sondagens nos últimos dois meses, apesar de ser um estado que nas últimas quatro décadas só por uma vez votou num democrata (reeleição de Bill Clinton, 1996). Mesmo assim, vamos admitir que a 3 de novembro Trump acabe por ganhar Florida e Arizona. Assim, os três estados decisivos podem acabar por ser os que foram há quatro anos: os três da "Rust Belt". O Wisconsin, onde Trump interrompeu há quatro anos uma muito sólida tendência de vitória democrata, mostra avanço claro de Biden nesta fase. No Michigan a diferença é menor: Biden é favorito, mas tudo pode acontecer. Ou seja, se tivermos que apontar o mais relevante de todos os estados relevantes nesta eleição 2020 será a Pensilvânia: se Biden perder lá, dificilmente ganha a eleição. Se Trump falhar a repetição do triunfo na Pensilvânia, também terá a reeleição muito complicada. Em 2016, Trump bateu Hillary na Pensilvânia por apenas 0,7%. 43 mil votos num universo de mais de 6 milhões de votantes! Por isso, está mesmo tudo em aberto. Hillary ganhou largamente as maiores cidades do estado (Filadélfia, Pittsburgh, Allentown, Harrisburg), mas Trump arrasou nos condados rurais e com menos população. E agora, como será?
UMA INTERROGAÇÃO: Ainda haverá cura para o ambiente malsão que se instalou sobre a política americana?
UMA SONDAGEM: Biden 51-Trump 42 (Reuters/Ipsos, 25/29 setembro)