Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
Corpo do artigo
1 - SOBREVIVERÁ O "TRUMPISMO" A UMA DERROTA DE TRUMP? Provavelmente sim. Em primeiro lugar, temos que antecipar que o universo Trump não aceitará pacificamente uma derrota. Por isso, independentemente do resultado de 3 de novembro, a sensação de "pertença ao poder" por parte dos trumpistas vai continuar por algum tempo. Depois, temos que perceber que Donald Trump tomou de assalto o Partido Republicano, tornando-o num culto de personalidade de um único "líder forte". Isso deixará uma marca num sistema que está assente num quadro bipartidário. Antes de Donald Trump, o Partido Republicano já caminhava para uma radicalização à direita, com a influência do Tea Party e o recuo dos moderados. Não se prevê que essa tendência desapareça, num passe de mágica, apenas com uma possível derrota Trump nas urnas. Sobretudo, uma vez mais, porque a tentação da base Trump será a de se recusar a encarar de forma democrática e com "fair play" uma possível derrota. Tenderão a culpar o outro lado, a lançar acusações de fraude, a manchar em definitivo o sistema.
2 - ACEITAR O INACEITÁVEL TEM CONSEQUÊNCIAS. A partir do momento em que o eleitorado aceitou eleger alguém como Donald Trump, abriu uma "caixa de Pandora" que dificilmente se fechará. Certamente sem ter noção disso, os americanos abriram espaço a que, no poder, se instalasse alguém que não respeita os outros poderes, abusa do seu próprio poder e desdenha a ciência e as instituições. Uma análise ao perfil e ao comportamento de Trump rapidamente nos indica que não abandonará de forma pacífica o cargo que ocupa. Não sem antes lançar para a lama as instituições e colocar em perturbação uma sociedade que supostamente deveria estimular. Ora, isso terá consequências. Os americanos deixaram de poder contar, nesta eleição, com a certeza de que os dois candidatos se comportarão com o mínimo de civilidade e decência. Um deles, neste caso o republicano, está antecipadamente a lançar acusações infundadas e nunca se comportará, em caso de derrota, com a dignidade de Al Gore
(2000), John Kerry (2004), John McCain (2008), Mitt Romney (2012) ou Hillary Clinton (2016), os últimos cinco candidatos derrotados nas presidenciais nos EUA. Se Biden ganhar tenderá, durante o seu mandato, a uma progressiva normalização institucional, a uma maior decência na liderança americana no mundo. Mas para que isso aconteça terá que haver dois momentos que comportam um grande risco: o ato eleitoral e o período de transição até à tomada de posse.
UMA INTERROGAÇÃO: Como será a transição caso Joe Biden seja eleito a 3 de novembro?
SONDAGENS NACIONAIS
ABC/Washington Post: Biden 49/Trump 43 (21 a 24 set)
Monmouth: Biden 50/Trump 45 (24 a 27 set)
The Hill/Harris X: Biden 45/Trump 40 (24 a 27 set)
ESTADOS DECISIVOS
Pensilvânia: Biden 49/Trump 40 (NYT/Siena, 25 a 27 set)
Wisconsin: Biden 48/Trump 46 (Susquehanna, 23 a 26 set)
Florida: Biden 46/Trump 43 (Susquehanna, 23 a 25 set)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas