Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - MATTIS SOBRE TRUMP: "PERIGOSO E SEM MORAL"
James Mattis foi um dos elementos de maior credibilidade no início da Administração Trump. Mas saiu da chefia do Pentágono em desavença com Trump, pela questão da retirada da Síria. Chocou-se com a "falha moral" do Presidente dos EUA, pelo modo como deixava os curdos sem qualquer proteção da ameaça turca, depois da intervenção fundamental dos curdos para a ajuda no combate ao Daesh, no terreno, enquanto as forças da coligação bombardeavam à distância, pelo ar. No livro de Bob Woodward, "Raiva", o general Mattis revelou que considera que Trump não tem capacidade para exercer o cargo presidencial: "É perigoso e não tem bússola moral". Dan Coats, ex-Diretor do Sistema de Informações e Inteligência, vai mais longe e no livro de Woodward comenta: "Para Trump, uma mentira não é uma mentira, é uma coisa que ele pensa. Ele não consegue diferenciar uma verdade de uma mentira".
2 - A TENDÊNCIA DO VOTO DEMOCRATA
Em 2016, Hillary Clinton teve mais 2,9 milhões de votos que Donald Trump. Em 2012, Barack Obama teve mais 4,96 milhões de votos que Mitt Romney. Em 2008, Barack Obama teve mais 9,6 milhões de votos que John McCain. Em 2000, Al Gore teve mais 540 mil votos que George W. Bush. Em 1996, Bill Clinton teve mais 7,7 milhões de votos que Bob Dole. Em 1992, Bill Clinton teve mais 5,8 milhões de votos que George Bush pais. Sim, eu sei: saltei 2004. Mas foi de propósito: nesse ano, George Bush filho teve mais 3,1 milhões de votos que John Kerry. Foi a única vez nos últimos 28 anos em que um nomeado presidencial republicano teve mais votos que um nomeado presidencial democrata. A tendência parece sólida - explica-se com a grande vantagem dos democratas nas minorias, que estão em crescendo e a participar cada vez mais no ato eleitoral. Seria uma enorme surpresa se, desta vez, o republicano Donald Trump viesse a recolher mais votos que o democrata Joe Biden no próximo dia 3 de novembro. Outra coisa, como é sabido, é o Colégio Eleitoral. Hillary Clinton e Al
Gore que o digam: tiveram mais votos, mas não foram eleitos. Será essa a sina de Joe Biden? E, caso isso aconteça, sendo a terceira vez nas últimas seis eleições em que quem tem mais votos não vai para a Casa Branca, não será tempo de rever isso?
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Joe Biden garantir a sétima maioria democrata em oito eleições presidenciais em relação aos votos obtidos pelo opositor republicano?
O ESTADO DA CORRIDA PRESIDENCIAL
A semana passada correu bem a Joe Biden e mal a Donald Trump. O nomeado democrata aumentou vantagens nos três estados "Rust Belt" (últimas sondagens apontam liderança Biden de +8 no Michigan, +5 na Pensilvânia, +9 no Wisconsin) e no Arizona (+9), estado sulista que nas últimas quatro décadas votou sempre no nomeado republicano, com exceção na reeleição de Bill Clinton. Na Carolina do Norte, outro "must win state" para Trump, Joe Biden surge à frente por 2 pontos. No Minnesota e na Virgínia, dois estados que Trump chegou a querer incluir no seu "mapa de reeleição", Biden tem vantagens de 12 a 16 pontos. As únicas tendências positivas para Trump são na Florida (empate total, 50/50, na última sondagem), no Ohio (Trump +3) e no Nevada (onde Biden chegou a ter vantagem aparentemente irreversível, mas que tem agora diferenças de 2 a 5 pontos). Está tudo em aberto e Trump poderá ter um trunfo final relacionado com a operação "Warp Speed" (está a apontar baterias para grandes novidades sobre a vacina na semana anterior à eleição). Certo, certo é que, depois da recuperação espetacular de Trump na segunda quinzena de julho e em agosto (num mês e meio reduziu para metade a distância que chegou a ter para Biden em junho), as primeiras três semanas de setembro mostram Biden a subir e Trump a descer. De acordo com o FiveThirtyEight, site de Nate Silver, a 31 de agosto, a probabilidade de eleição Biden era dois para três (67%). Hoje é de três para quatro (77%). Preparem-se: nas próximas cinco semanas vai valer quase tudo.