Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - OPORTUNIDADE PERDIDA POR FALTA DE DIMENSÃO
Na morte de Ruth Bader Ginsburg, juíza do Supremo Tribunal dos EUA, Donald Trump teria a grande oportunidade de sarar feridas numa sociedade dramaticamente dividida e, ao mesmo tempo, de ganhar a eleição de 3 de novembro, reconciliando parte do eleitorado independente e democratas moderados. Poderia fazê-lo se respeitasse o espaço político e o quadro de valores que a juíza Ginsburg representava, nomeando um sucessor (ou uma sucessora) que se enquadrasse na mesma esfera liberal, depois de, neste mandato presidencial, já ter nomeado dois juízes conservadores (Neil Gorsuch e Brett Kavanaugh). Mas não creio que tenha nem dimensão pessoal nem capacidade política para o fazer. Vai aproveitar para mudar, em gerações, o sentido ideológico do Supremo Tribunal para uma carga demasiado conservadora e à direita, tendo em conta o que é verdadeiramente a América. É o problema de ser um Presidente de fação e de nicho -- e não um Presidente respeitador da União em que os EUA se fundam. Sem a juíza Ginsburg, o Supremo passa a contar com apenas três juízes de tendência liberal (Elena Kagan e Sonia Sotomayor, ambas nomeadas põe Barack Obama, e Stephen Breyer, nomeado por Bill Clinton), quatro juízes claramente conservadores (Neil Gorsuch e Brett Kavanaugh, ambos nomeados por Donald Trump, ainda Sam Alito, nomeado por George W. Bush, e Clarence Thomas, nomeado por George W. Bush) e o "chief justice" John Roberts, nomeado por George W. Bush, que é tendencialmente conservador, mas tem um registo que, por vezes, se alinha nas votações mais moderadas ou liberais. Ou seja: se Trump nomear alguém muito conservador, o alinhamento ideológico do Supremo fica mesmo muito à direita. O Presidente já disse que quer que o Senado aprove rapidamente o novo nome - e deu a entender que será uma mulher. Não nos esqueçamos que, com a perspetiva duma eleição presidencial renhida e com o risco de haver disputas de recontagem que cheguem aos tribunais em vários estados decisivos (sobretudo com o aumento enorme do voto por correspondência), não é impossível que a composição do Supremo seja relevante para uma decisão final sobre a validação do próximo resultado eleitoral. Há dois anos publiquei um livro com um título que diz tudo sobre o que neste ponto explico: isto não é bem um Presidente dos EUA.
2 - UM "TOWN HALL" SEM QUALQUER SINAL DE FRAQUEZA
Donald Trump vai repetindo que Joe Biden "está velho", é "sonolento" e lança suspeitas sobre uma possível "senilidade" do seu opositor. Ora, nada disso se verificou no "Town Hall" que a CNN organizou, com apresentação de Anderson Cooper, com o nomeado presidencial democrata. Joe marcou diferenças em relação ao adversário ("sou o candidato de Scranton, Pensilvânia, Midwest profundo; ele é o candidato de Park Avenue"). Foi à jugular, lembrando o episódio dos insultos de Trump aos combatentes ("losers and suckers"). Prometeu ser um Presidente mais decente, mais confiável, menos dependente de Putin e de líderes pouco recomendáveis. E sobre a gestão de Trump na pandemia, chamou-a de "quase criminoso". "Não confio em Trump nas vacinas, confio no dr. Fauci". É Biden ao ataque, a mostrar que não quer só esconder-se na vantagem nas sondagens, que não tem medo de aparecer e dar a cara.
UMA INTERROGAÇÃO: Será a idade avançada de Joe Biden um fator determinante, tendo em conta que Donald Trump tem apenas menos três anos
ESTADOS DECISIVOS
Florida: Trump 50-Biden 50 (Florida Atantic University, 11 e 12 set)
Nevada: Biden 46-Trump 42 (NYT/Siena College, 8 a 19 set)
Ohio: Biden 49-Trump 45 (Rasmussen Reports, 1 e 2 set)
Colorado: Biden 55-Trump 45 (Emerson, 1 e 2 set)
Geórgia: Trump 48-Biden 41 (WSB-TV-Landmark, 29 a 31 ago