Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - "ESTAR BEM COM A LEI QUE HÁ"
Isto, Senhor Doutor, o que é preciso é a gente estar bem com a lei que há", explicava um sábio pastor alentejano a José Cutileiro. Já tinha lido a história por 2014, no "Bloco Notas" do blogue Retrovisor, mas soube recordá-la, em saborosa leitura de férias, no "Inventário", livro de fim de vida do culto, vivido e muito divertido Embaixador, que durante 15 anos ouvi e li - com ele me viciei no caminho inesgotável de tentar compreender o mundo. A fala do pastor alentejano bem que podia ser a legenda da atitude dos republicanos nestes estranhos anos Trump. Primeiro estranharam e desdenharam. Depois recearam. Agora entranharam. E já nem estranham. Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro: "Quando era garoto, em dois rios de São Paulo dava para tomar banho e ia pescar com o meu pai. Eram limpos, não havia problema. Hoje isso era impensável para um garoto de 10 ou 12 anos. A poluição é cada vez maior, o cheiro nauseabundo. Mas sabe o que é pior? É que com o tempo e o hábito, a gente até esquece de como era bom quando os rios eram limpos. Primeiro estranhamos quando começam a feder. Mas sabe o que é pior? É que a gente habitua. E já nem estranha que esses dois rios fedam". È no que dá levar à letra isso de "estar bem com a lei que há". Quando o inaceitável deixa de causar indignação e passa a ser normal. Quando perdemos a capacidade de achar estranho quando algo está profundamente mal.
2 - OS "EMPREGOS" E AS "CAUSAS FRATURANTES"
Trump e os seus apoiantes insistem na ideia de que o republicano é "o candidato dos empregos" e de uma América segura. Ora, vale a pena recordar o registo de criação de emprego dos últimos dois Presidentes democratas: 36 milhões de novos postos criados (24 milhões nos oito anos Bill Clinton; 12 milhões nos oito anos Barack Obama). Sobre "as causas fraturantes" que o campo Trump tenta associar a Joe Biden, convém lembrar que Biden era, nas primárias democratas, o candidato mais moderado e central. É certo que Joe quer agora absorver (com a ajuda de Kamala) boa parte do progressismo democrata, mas sempre com cautelas. Uma mentira repetida muitas vezes não passa a ser verdade só porque é repetida muitas vezes.
UMA INTERROGAÇÃO: Pode Donald Trump, que perdeu o Minnesota por apenas 1,5% para Hillary Clinton, disputar este estado situado na parte norte do Midwest, que nas últimas quatro décadas só com Ronald Reagan deu o triunfo a um republicano?
UM ESTADO: Minnesota
Resultado em 2016: Hillary 46,4%-Trump 44,9%
Resultado em 2012: Obama 52,7%-Romney 45,0%
Resultado em 2008: Obama 54,1%-McCain 43,8%
Resultado em 2004: Kerry 51,1%-Bush 47,7%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 11 vitórias democratas, 1 vitória republicana)
-- O estado do Minnesota tem 5,7 milhões habitantes: 79,1% brancos, 5,6% hispânicos, 7,0% negros, 5,2% asiáticos; 50,2% mulheres
10 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Minnesota | Biden 50-Trump 41
(Siena College/New York Times Upshot, 8/10 setembro)
*autor de quatro livros sobre presidências americanas