America Countdown… 67dias. Recuperar a narrativa e a fraqueza de um segundo Governo Trump
Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - RECUPERAR A NARRATIVA
Depois de uma grande descida -- que o levou a estar 15 pontos atrás de Joe Biden por força do agravamento da pandemia, da queda económica e das ondas de choque da morte de George Floyd - Donald Trump tem vindo a recuperar nas sondagens. Por maio e junho, o atual Presidente dos EUA perdeu a narrativa: afinal a América já não tinha a "melhor Economia em meio século"; afinal os americanos com Trump não podiam "sentir-se mais seguros"; afinal os americanos com Trump eram (e continuam a ser) as maiores vítimas da Covid-19, a maior pandemia num século. Nas últimas semanas, Trump tem vindo a tentar repor os cacos: a Economia não voltará tão cedo aos níveis de fevereiro, mas o desemprego, que já atingiu quase 15%, está agora pelos 10%. Se o Presidente conseguir incutir junto do seu universo eleitoral a ideia de que está no caminho certo da recuperação económica, a evolução do desemprego pode já ser um trunfo e não um problema para ele em novembro. E a pandemia? Há vários estados que continuam com a situação descontrolada. Trump oscila entre simpatia por movimentos negacionistas e desafiadores das autoridades e, por vezes, um discurso um pouco mais responsável. Mas há um ponto que, por cá, não estaremos a avaliar na sua completa dimensão: é que uma fatia muito relevante do eleitorado americano será mais sensível ao argumento "a Economia tem que reabrir, mesmo à custa de mais alguns milhares de mortos por Covid-19". Para esse eleitorado, a perspetiva mais responsável do dr. Fauci e do CDC são entraves a essa necessidade. E a posição de Trump estará mais dentro do que pensam e sentem neste momento. É claro que um número elevadíssimo de mortos americanos por Covid-19 até à eleição (serão, por essa altura, algures entre 250 e 300 mil) será sempre um problema para Trump - um Presidente que não consegue proteger a vida dos seus eleitores é um Presidente falhado. O facto de grande parte dos óbitos estarem numa faixa etária importante para Trump também não será de desvalorizar (como é sabido, os mortos não votam). Mas está longe de ser um dado adquirido que Trump seja muito penalizado pela pandemia em novembro. O trunfo final da vacina (e Trump está a pressionar fortemente o CDC, a FDA e os laboratórios para queimar etapas nesta reta final para aprovação da vacina, numa espécie de versão americana do estilo Putin) assim o indica.
2 - COMO SERIA UM SEGUNDO GOVERNO TRUMP?
Fraco politicamente e desacreditado tecnicamente. Um rápido olhar por estes quatro anos de bizarria trumpiana na Casa Branca mostra-nos uma evolução de degradação progressiva da qualidade política da administração americana. No início, Trump ainda conseguiu atrair para postos políticos de relevo nomes como o General Jim Mattis (Defesa), o General John Kelly (Segurança Interna e "Chief of Staff"), Rex Tillerson (Departamento de Estado) ou o General HR McMaster (Conselheiro de Segurança Nacional). Mas com o passar do tempo foram todos saindo - e quase sempre de forma tempestuosa, em desavença com o Presidente. Uma característica muito consistente destes anos Trump é que trabalhar com o Presidente deixa marcas negativas. "Foi a pior fase da minha vida", assumiu o General John Kelly, poucos dias depois de ter saído. A Administração Trump caracteriza-se por ter muita dificuldade em preencher postos fundamentais nas áreas de Política Externa e Defesa (embaixadas muito tempo embaixador em zonas de relevo para os EUA; cargos de dimensão média-alta no Departamento de Estado sem quadros à altura dispostos a aceitar...) No plano mais elevado, a qualidade dos executantes tem sido cada vez menor, à medida que as primeiras escolhas se desentendem com o Presidente. O que se passou no Pentágono depois da saída do General Jim Mattis e no importante posto de Conselheiro de Segurança Nacional, após a saída de John Bolton, são disso exemplos claros.
UMA INTERROGAÇÃO: Será que algum estado do Sul passará de Trump para Biden?
UM ESTADO: Luisiana
Resultado em 2016: Trump 58,1%-Hillary 38,5%
Resultado em 2012: Romney 57,8%-Obama 40,6%
Resultado em 2008: McCain 58,6%-Obama 39,9%
Resultado em 2004: Bush 56,7%-Kerry 42,2%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 3 vitórias democratas, 9 vitórias republicanas)
-- A Luisiana tem 4,7 milhões habitantes: 58,4% brancos, 4,6% hispânicos, 32,8% negros, 1,8% asiáticos; 51,2% mulheres
8 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Luisiana | Não há sondagens neste estado, para já | O modelo preditivo da Economist dá mais de 99% de probabilidade de vitória Donald Trump na Luisiana