America Countdown… 68 dias. Partido de um homem só e esboço de Administração Biden
Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - UM PARTIDO DE UM HOMEM SÓ
Donald Trump transformou o Partido Republicano num circo. Num "reality show" de uma só personagem: ele próprio. Esta semana de Convenção foi pensada quase exclusivamente sobre esse pressuposto: o candidato fala todos os dias, coisa inédita e em claro contraste com 17 oradores do conclave democrata da semana transata. Trump fez do Grande Old Party de Lincoln, Eisenhower e Reagan um refém das suas próprias ambições e vaidades. Transformou a Convenção num assunto quase de família. Secou os críticos, fez desaparecer do mapa os antecessores republicanos (Bush filho e Romney ainda não se pronunciaram, não é impossível que algum deles ou até os dois acabem por declarar apoio a Biden; pelo menos não farão endorsment de Trump). Mesmo que muitos insistem em não reparar, o autoritarismo personalista já chegou à mais alta política americana. A 3 de novembro, vai a referendo.
2 - ESBOÇO DE UM GOVERNO BIDEN
Está muito longe de ser um dado adquirido, mas é claramente o cenário mais provável a partir de 20 janeiro 2021: a Casa Branca passa a ser governada por Joe Biden, com Kamala Harris como vice-presidente. E o resto? Já dá para lançar algumas pistas, com o grau de indefinição que estas coisas sempre têm. Fará todo o sentido que Biden junte três ingredientes, falta saber com que temperos: representantes da ala esquerda com relevância política em cargos influentes da sua futura administração; elementos da ala moderada e institucional, a via que predominou nas primárias, com a escolha de Biden; possíveis peças (minoritárias, mas simbólicas) vindas do Partido Republicano que recusa Trump. Começando por esta última: não é impossível (mas também não é provável) que Biden convide o General Colin Powell, republicano dos tempos Bush pai e Bush filho mas apoiantes de candidatos presidenciais democratas desde Obama 2008, para Secretário de Estado ou Secretário da Defesa. Menos sonante, mas talvez mais provável, é que possa convidar o ex-governador do Ohio, e terceiro classificado nas primárias republicanas 2016, John Kasich (talvez o último republicano "moderado e centrista" que resta com algum relevo nacional, para um posto mais ligado à área económica ou à ligação entre o governo federal e os estados. Meg Whitman, ex-CEO da Hewlett Packard e antigo alto quadro da Disney, republicana que tentou a nomeação presidencial em 2016 e cedo percebeu que os ventos estavam para Donald Trump, é outra hipótese para um futuro governo Biden. À esquerda, há dois nomes a considerar: Elizabeth Warren, senadora pelo Massachussets, poderá vir a ser Secretária do Tesouro ou Conselheira Económica Nacional, naquela que será a demonstração clara que Biden tem uma penetração na ala esquerda muito maior do que tinha Hillary. Alexsandria Ocasio-Cortez, apontada como a campeã esquerdista das gerações mais novas, poderá ocupar um cargo menos relevante politicamente, mas com alguma capacidade mediática (Secretária da Educação o da Habitação provavelmente). Mais ao centro, cinco nomes ganham força num futuro governo Biden: Susan Rice (que seria a principal alternativa a Kamala Harris para vice do ticket presidencial) é forte candidata a futura Secretária de Estado (com Obama foi Embaixadora na ONU e Conselheira de Segurança Naciona); Tony Blinken é a opção óbvia para Conselheiro de Segurança Nacional (já é, neste momento, "top adviser" para a área das relações externas da campanha Biden e experiência nas administrações Obama); Pete Buttigieg (que foi decisivo para a nomeação de Biden, ao desistir a favor dele na noite da Carolina do Sul), é apontado a Embaixador dos EUA na ONU ou Secretário para os Assuntos dos ex-Combatentes (ele próprio é veterano de guerra no Afeganistão); Beto O"Rourke e Karen Bass são possíveis escolhas para o Comércio e os Serviços de Saúde, respetivamente.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Donald Trump segurar a esmagadora maioria do eleitorado republicano nos estados onde a pandemia está a ser mais grave?
UM ESTADO: Alabama
Resultado em 2016: Trump 62,1%-Hillary 34,4%
Resultado em 2012: Romney 60,6%-Obama 38,4%
Resultado em 2008: McCain 60,3%-Obama 38,7%
Resultado em 2004: Bush 62,5%-Kerry 36,8%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 1 vitória democrata, 11 vitórias republicanas)
-- O Alabama tem 4,9 milhões habitantes: 65,3% brancos, 4,6% hispânicos, 26,8% negros, 1,5% asiáticos; 51,7% mulheres
9 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Alabama | Trump 58-Biden 36
(Morning Consult 24 julho-2 agosto)