Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - ISTO NÃO É A AMÉRICA.
A América que elegeu Trump é nacionalista, protecionista e unilateralista. Mas isso não é a América. "Os Estados Unidos não são uma ilha. Estão mais interligados com o exterior do que qualquer outro país no Mundo. E isso não se altera numa mera presidência", nota, nota Jon Alterman, vice-presidente sénior do Center for Strategic and International Studies. "Trump tem que perceber que a globalização não é uma escolha: é uma realidade. A ordem global é um organismo autónomo e no fim da era Trump esse organismo terá encontrado uma forma de se adaptar e continuar a prevalecer", aponta Richard Haas, presidente do Council on Foreign Relations. Karl Vick, na TIME, pergunta: "Será que o relógio do século americano parou no ano 72, ficando-se pelo período entre 1945 e 2017? Não mais do que o tempo durante o qual Luís XIV regeu a França? Apenas 36 meses mais que a duração da URSS, depois de tudo isto? A questão soa como uma afronta. Um insulto". Há dois anos e meio, no seu primeiro State of The Union, em fevereiro de 2018, Trump rompeu caminho bipartidário americano de uma década em relação a Guantánamo. Em 2008, o candidato presidencial republicano, John McCain, defendia a extinção dessa prisão, reconhecendo que os "EUA não devem permitir a tortura". Uma década depois, o presidente Trump colocou os EUA como "estado pária" em temas fundamentais para a nossa mundividência, como o respeito pelos Direitos Humanos, a luta contra as alterações climáticas (saída do Acordo de Paris) ou a gestão do fluxo de migrantes e refugiados (saída da Declaração de Nova Iorque). Ver os EUA a fazer esta figura nos grandes palcos internacionais é perturbador. Será que um triunfo de Joe Biden em novembro permitirá o regresso ao essencial?
2 - ASSIM É FÁCIL.
Donald Trump falou em "big surge" (enorme aumento) de casos na Nova Zelândia, numa altura em que por lá se crescia a uma escala de... nove casos, enquanto declarara sucesso nos EUA, onde se cresce a mais de 40 mil por dia. O Presidente dos EUA nega a ciência, a evidência e a investigação. Diminui o papel do CDC, da FDA e das principais autoridades sanitárias e médicas. Ataca o dr. Fauci quando lhe convém e dá cobertura a posição sem fundamento científico. Donald Trump não nasceu, de facto, com o gene da vergonha. Mas como milhões de eleitores continuam a preferir este estilo, a única conclusão que se tira é que é assim é fácil.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Joe Biden ser capaz de desafiar a quase inevitabilidade do triunfo do nomeado republicano no Texas, regras nas últimas décadas?
UM ESTADO: Texas
Resultado em 2016: Trump 52,2%-Hillary 43,2%
Resultado em 2012: Romney 57,2%-Obama 41,4%
Resultado em 2008: McCain 55,5%-Obama 43,7%
Resultado em 2004: Bush 61,1%-Kerry 38,2%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 1 vitória democrata, 11 vitórias republicanas)
-- O Texas tem 29 milhões habitantes: 41,2% brancos, 39,7% hispânicos, 12,9% negros, 5,2% asiáticos; 50,3% mulheres
38 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Texas - Biden 47-Trump 46
(Morning Consult 24 julho-2 agosto)