Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - VOTAR OU NÃO VOTAR, EIS A QUESTÃO
Esta é a eleição da polarização. Dos convencidos e zangados com "o outro lado". Não é uma eleição de "common ground", é uma luta de boxe entre dois campos. Não se trata de persuasão, porque há muito pouca gente para seduzir ou convencer. Por isso os indecisos são só 7 a 10%. Mais de 90% dos republicanos já decidiram votar Trump. Mais de 90% dos democratas já decidiram votar Biden. Os votantes Trump olham para Obama a falar de "caráter" e ficam furiosos e ainda mais convencidos a votar Trump. Os votantes Biden assistem às diatribes diárias de Trump e sentem ainda maior necessidade de ir votar Biden para travar a reeleição de Trump. Flutuações e cruzamentos são cada vez menos. Nos independentes não há uma diferença tão clara, mas tudo aponta para uma vantagem considerável para Biden, algures pelos 60/40 ou 65/35 (embora com muitas nuances por idade e estrato social). Então está quase tudo decidido, certo? Nada disso. Sem espaço para a persuasão, terá quase tudo a ver com mobilização. Não se trata de decidir "entre Trump e Biden". Trata-se se de saber quantos votantes Trump vão às urnas (ou votam por correspondência) e quantos se abstêm. E quantos votantes Biden vão às urnas (e votam por correspondência) e quantos se abstêm. Talvez por isso, a TIME decidiu fazer uma capa histórica: pela primeira vez não pôs o seu nome no cabeçalho, mas sim VOTE.
2 - UM ERRO QUE PODE NÃO VIR A TER SOLUÇÃO
O que pode significar uma reeleição Trump? Fareed Zakaria, colunista do Washington Post, autor do premiado programa GPS - Global Public Square, no programa de Anderson Cooper, "AC 360": "Acho que um segundo mandato de Trump seria uma perda irreparável. Isto é muito diferente do que aconteceu no passado. Porque não é sobre o que a América fez, é sobre o que ela verdadeiramente é. Sobre o que somos. No passado, as pessoas criticaram as políticas dos americanos: a Guerra do Vietname, a Guerra do Iraque. Mas isso era sobre o que a América fez. Isto é diferente. Esta eleição é sobre quem somos. Trump representa para grande parte do mundo a ideia de que a América, afinal, não era o que eles imaginavam que seria: o farol da Democracia, o pluralismo, a diversidade. Essa ideia
de que, no momento certo, a América era capaz de apresentar a melhor ideia, a melhor solução, o melhor exemplo. O que Trump representa é a oposição a essa crença. Começa a sua carreira política com o "birtherism" (tese lunática que acusava Obama de não poder ser Presidente dos EUA por supostamente ter nascido no Quénia, o que é factualmente errado, dado que o ex-Presidente dos EUA nasceu no Havai, território americano). Começa a sua candidatura presidencial chamando os mexicanos de violadores. Avançou com a "muslim ban". Tudo isso é tão "alien", tão fora do quadro de valores e de decisões dos presidentes americanos, da América que toda a gente no mundo admira.". Zakaria aposta em vitória Biden, mesmo sabendo que o cenário nas sondagens está demasiado idêntico ao de Hillary/Trump por esta altura, em 2016: "Sim, Hillary estava por esta altura com diferenças semelhantes às que Biden tem. E sim, esta é uma corrida apertada, numa América dividida. Mas sinceramente prefiro olhar para uma narrativa que muitos dados neste momento confirmam: Donald Trump é o Presidente mais impopular desde que há medição de popularidade. Nunca teve a maioria do país a apoiá-lo e aprová-lo. Há quatro anos, derrotou a segunda candidata presidencial mais impopular da história moderna e em três estados, por 70 mil votos, ganhou o Colégio Eleitoral. Claro que não sei e não posso ter a certeza, mas aposto que isso não acontecer de novo. Até pelo meu passado de imigrante, tenho a convicção de que a América não é Trump. Não é o racismo descarado que ele propala. Quero acreditar que isso não é a América. Quero apostar na América que conheço".
UMA INTERROGAÇÃO: Que dimensão terá a onda de aumento de voto por antecipação nesta corrida 2020?
OS PRESIDENTES DOS EUA ENTRE 1901 E 1929
26 - Theodore Roosevelt (1901-1909) Vice-Presidente: Charles Fairbanks
Partido: Republicano
Conservacionista, naturalista, historiador e escritor. Foi governador de Nova Iorque e vice-presidente dos EUA. Combateu as políticas anti-trust e impôs visão que levaria à Era Progressiva dos anos 20.
27 - William Taft (1909-1913) Vice-Presidente: James Sherman
Partido: Republicano
Foi o 27.º Presidente dos EUA e uma década depois viria a ser "Chief of Justice" (juiz-presidente do Supremo Tribunal). Viria a falhar a reeleição em 1912 pelos votos dispersos dos republicanos em função da candidatura de Teddy Roosevelt, de quem Taft tinha sido vice-presidente, por um terceiro partido.
28 - Woodrow Wilson (1913-1921) Vice-Presidente: Thomas Marshall
Partido: Democrático
Foi presidente da Universidade de Princeton e governador da Nova Jérsia. Liderou a nação na I Guerra Mundial, com uma política externa "wilsoniana", e viria a promover a Liga das Nações.
29 - Warren Harding (1921-1923) Vice-Presidente: Calvin Coolidge
Partido: Republicano
Um dos mais populares presidentes até ao seu tempo. Foi senador estadual e vice-governador pelo Ohio. Falhou a eleição para governador mas isso acabaria por abrir-lhe as portas para o Senado dos EUA.
30 - Calvin Coolidge (1923-1929) Vice-Presidente: Charles Dawes
Partido: Republicano
Advogado republicano da Nova Inglaterra, nascido no Vermon. Foi governador do Massachussets. Era um conservador que defendia o pequeno governo.