Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - CORREIO AZUL OU VERMELHO?
Na eleição mais à distância e menos presencial da história da América, por força da pandemia, será fundamental que o voto por correspondência funcione e não gere dúvidas. Trump já lançou lama para o processo, dizendo que haverá "fraudes gigantescas" para abrir espaço a uma narrativa de justificação de derrota. O caso é mais sério do que parece. O Presidente dos EUA está a pôr em causa a seriedade de serviços públicos básicos do país mais rico do mundo. E está a fazer mais do que isso. A denúncia é feita nada menos do que pelo seu antecessor, Barack Obama: "Trump está, propositadamente, a tentar fragilizar os serviços postais para afetar o processo eleitoral nos EUA". A base da acusação de Barack sobre Donald tem a ver com a redução de fundos que o Presidente propôs para os correios da America. "A intenção dele é afastar milhões de eleitores da possibilidade de votar. A sociedade civil tem que estar atenta. Temos todos que contribuir para que esse processo decorra da melhor forma", apelou Obama, em entrevista ao podcast de David Plouffe, seu ex-diretor de campanha.
2 - QUATRO ANOS DE PODER TORNAM MAIS DIFÍCIL QUE A CONVERSA POPULISTA COLE
É normal que, nesta fase decisiva da corrida presidencial 2020, se façam comparações com 2016 e se ache que "no final deste filme, o Trump vai ganhar". Até pode ser esse o desfecho. Não é provável, mas é possível. Mas convém explicar que 2020 nada tem a ver com 2016. Donald Trump já não é a novidade em forma de pesadelo assustador. Agora é o Presidente que tenta, a todo o custo e dando fortes sinais de desespero, obter a reeleição. Um populista está em muito maior zona de conforto quando vem de fora e pode atirar contra quem está no poder. Um populista há quatro anos no poder já tem menos margem para fazer colar a sua conversa demagógica. Por isso é que Trump e Bolsonaro se mantêm, em muitos casos, com uma atitude de "oposição", mesmo sendo Presidentes há tanto tempo. Porque dificilmente conseguem sair do discurso "nós contra eles". Para muita gente isso ainda resulta, mesmo estando Trump na Casa Branca desde janeiro de 2017. Mas, hey: agora fica mais difícil, Donald. As sondagens estão aí para o comprovar. Sim, há um "povo Trump" sólido, fiel e numeroso. Mas não são os 46,4% que votaram nele em 2016. São muito menos. "Acabar com o establishment", Donald? Isso era conversa de 2016. Agora há uma pandemia, a maior num século. E os EUA, apenas um vigésimo da população mundial, têm um quarto dos infetados e o Presidente, em vez de conseguir conter a ameaça, não dá mostras de evitar o seu agravamento. Isto agora fia mais fino, Donald.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Donald Trump ganhar ou perder eleitoralmente com a aposta na carta da "lei e ordem" levada ao extremo?
UM ESTADO: Rhode Island
Resultado em 2016: Hillary 54,4%-Trump 38,9%
Resultado em 2012: Obama 62,7%-Romney 35,2%
Resultado em 2008: Obama 63,1%-McCain 34,8%
Resultado em 2004: Kerry 59,4%-Bush 38,7%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 10 vitórias democratas, 2 vitórias republicanas)
-- O Rhode Island tem 1,1 milhões habitantes: 71,4% brancos, 16,3% hispânicos, 8,5% negros, 3,7% asiáticos; 51,3% mulheres
4 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Rhode Island - sem sondagens até agora | o modelo preditivo da Economist dá mais de 99% de probabilidade de vitória Joe Biden neste estado