America Countdown… 77 dias. Isto pode ser mau. Resolve-se, mas até lá pode ser mau
Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - NÃO SEI SE ESTÃO BEM A VER. Por vezes o cenário mais provável é o mais assustador. Não é frequente - mas é menos raro do que gostamos de imaginar. Ora, o atual quadro para a eleição americana de 3 de novembro configura riscos demasiado evidentes para acharmos que "não vão acontecer". A situação pandémica nos EUA é muito grave, sobretudo em estados como a Florida, o Texas, o Arizona ou a Califórnia. E no sul, cada vez mais no sul. E pode ficar ainda pior até novembro. Ora, perante a necessidade se fazer a eleição a 3 de novembro, o recurso ao voto por correspondência será decisivo. Trump vê aí a oportunidade que precisava para manchar o processo eleitoral e, com isso, justificar uma derrota mais que provável. Não haveria grande problema: os EUA têm regras, leis, tribunais. Trump pode dizer o que quiser - mas é apenas um candidato em modo Presidente-incumbente: não é a Comissão Eleitoral, muito menos a Lei. Só que as coisas não são assim tão simples: Trump sabe que não tem o poder de anular as eleições. Mas tem outro poder, muito perigoso: o de pôr milhões de americanos a acreditar que foram enganados e que "as eleições foram fraudulentas". Não serão. Mas se "o povo Trump" acreditar nisso, os EUA vão passar por um período muito conturbado. Muito, mesmo. Não sei se estão bem a ver o que pode acontecer. Será mau. Há de passar - e se Joe Biden ganhar as eleições, certamente vai tomar posse. Mas até lá pode ser mau.
2 - "TIK TOK" OU TIC-TAC? A partida pregada pela geração "tik tok" levou a que o comício de Trump em Tulsa, por 19 junho, fosse uma barraca de todo o tamanho, mas daí a extrapolar para resultados nas urnas vai uma enorme distância: até agora essa geração não tem votado (por idade e por desinteresse no processo eleitoral). Será diferente desta vez? Dito isto, é claro que é muito divertido (e tem o seu quê de justiça poética) ver Trump levar uma banhada em dois campos em que foi até agora perigosamente imbatível: na mobilização logística e no controlo das redes sociais. 2016 foi o ano em que o Facebook deu a vitória a Trump; em apenas dois anos o triunfo "silencioso" deu-se no Whatsapp para Bolsonaro no Brasil. No arranque para a corrida presidencial de 2020 foi o Tik Tok a pregar partida que virou o feitiço (efeito inesperado de uma rede social num evento) contra o feiticeiro
(Trump e as suas permanentemente iradas "milícias digitais"). Mas foi só o começo. Em ano de "território desconhecido" em quase tudo, a eleição América 2020 será, ela própria, uma história sem guião prévio. Usarmos comparações com eleições passadas, incluindo a de 2016, de pouco servirá. Nestes tempos de vertigem tecnológica e memória de duração "Memento" (quem não viu o filme de Christopher Nolan que veja), quatro anos são mesmo uma eternidade. Já não nos ajudam a explicar quase nada. Até complicam.
UMA INTERROGAÇÃO: Que novidades terá a narrativa eleitoral de Donald Trump na reta final da campanha 2020, comparando com as ideias "anti-establishment" e nacionalista/nativista de 2016?
UM ESTADO: Nova Jérsia
Resultado em 2016: Hillary 55,0%-Trump 41,7%
Resultado em 2012: Obama 58,3%-Romney 40,5%
Resultado em 2008: Obama 57,3%-McCain 41,6%
Resultado em 2004: Kerry 53,0%-Bushy 46,2%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 7 vitórias democratas, 5 vitórias republicanas)
- A Nova Jérsia tem 8,9 milhões habitantes: 54,6% brancos, 20,9% hispânicos, 15,2% negros, 10,0% asiáticos; 51,1% mulheres
14 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Nova Jérsia - Biden 51/Trump 33 (DKC Analytics: 7-12 julho)