Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - RISCO MÁXIMO. Os próximos 83 dias são de risco máximo para os EUA, para a democracia norte-americana e, por arrastamento, para todos nós. Se estivéssemos em tempos "normais", um olhar relativamente atento para os dados atuais da corrida presidencial nos EUA apontaria para um fortíssimo favoritismo de Joe Biden. Sucede que há muito que não vivemos tempos "normais". O nomeado presidencial democrata lidera com grande vantagem em todas as sondagens nacionais (numa média de 8% de avanço). Nos estados decisivos, Joe lidera também em quase todos eles, embora com diferenças não tão grandes: Wisconsin, Pensilvânia, Michigan (os três que deram inesperadamente o triunfo a Trump sobre Hillary em 2016), mas também Florida, Carolina do Norte e até Arizona (que em 2016 nem sequer estava nos "swing states", era republicano certo, mas onde Biden bate Trump neste momento em quase todos os estudos), tudo estados onde Donald ganhou a Hillary há quatro anos, de forma clara. Se Biden dá mostras de poder "roubar" vários redutos onde Trump levou a melhor sobre Clinton há quatro anos, o contrário não parece ser possível para já: no Colorado, na Virgínia, no Novo México e no New Hampshire - os únicos quatro estados oscilantes onde Hillary levou a melhor sobre Trump em 2016 (e também por diferenças pequenas) - Biden aparece, para já, claramente à frente do atual Presidente. Tudo somado, os dois únicos estados decisivos onde Trump parece manter-se como possível vencedor são o Ohio e o Iowa. Depois de vários meses a beneficiar de claro favoritismo para a reeleição, Donald Trump perdeu, em dois meses, o grande trunfo para novembro: a Economia. A pandemia trocou as voltas à narrativa trumpiana. Vigora a sensação de que o desconforto e o sofrimento serão longos. O 45.º Presidente dos EUA partirá para as eleições de novembro com o mais alto desemprego em várias décadas e com níveis de aprovação presidencial pelos 40% (às vezes ligeiramente abaixo dessa fasquia, outras ligeiramente acima, mas sempre muito, muito longe dos 50%). Não por acaso, as casas de apostas, que já durante a pandemia ainda davam favoritismo a Trump, dão agora 60% de probabilidade de eleição a Biden e menos de 40% a Trump. Então, com tudo o que acima foi escrito e explicado, já está feito para Joe Biden? Nada disso. Há um erro de base que muitos insistem em cometer ao analisar a atual presidência americana. O que está a acontecer não se compara com nada.
2 - "TEMAM O PIOR EM NOVEMBRO". "É impossível imaginar Trump a aceitar uma derrota nas eleições", aponta Lawrence Douglas, professor de Direito na universidade norte-americana de Amherst, autor do livro "Will he go?", em entrevista ao "Público". "As probabilidades de Trump não reconhecer uma derrota são de dez em dez. E isso vai mergulhar o país numa crise de sucessão sem paralelo em 231 anos de História", avisa. O momento atual é, por isso perturbador. Lembram-se do tão responsável e inspirador discurso de concessão de John McCain em 2008, na noite da primeira eleição presidencial de Barack Obama?
Esqueçam. Nunca Donald Trump fará algo do género. A escolha dos eleitores republicanos nas primárias presidenciais de 2016, ao investir Donald Trump, ditou uma rutura política de difícil reconstrução. Christopher Hill, na "Foreign Affairs", aponta: "Quando a Administração Trump terminar a tarefa difícil e dolorosa de reconquistar a confiança na liderança americana pode começar."
Nesse artigo, o diplomata, sub-secretário de Estado norte-americano para a Ásia-Pacífico na Administração Obama, revela uma espécie de otimismo reservado no que poderá acontecer em novembro: "As tendências parecem sugerir com maior força que a presidência de Donald Trump, que para muitos já parece durar há uma eternidade, pode estar a caminhar para o seu ignóbil fim. Caso isso aconteça mesmo, a presidência que se seguirá vai enfrentar uma tarefa desconcertante. O país precisa de ser devolvido aos seus valores, ao primado da Lei e ao papel vital que em tempos assumiu de ser um farol de esperança, segurança e liderança. Esse caminho será longo e duro. (...) Os danos atingem as mais diversas frentes, da doméstica à externa. As instituições de governo nos EUA foram danificadas e não é certo que muitos funcionários competentes com grande grau de especialização em várias áreas possam ou queiram regressar. Se ganhar a presidência, o ex-vice presidente Joe Biden terá que inspirar uma nova geração de Americanos a abraçar a missão de serviço. É o primado da Lei e o conceito de Governo de e para o povo que está em causa".
UMA INTERROGAÇÃO: Que reação vão ter os congressistas republicanos, caso Donald Trump recuse mesmo aceitar uma derrota nas urnas?
UM ESTADO: Idaho
Resultado em 2016: Trump 59,3%-Hillary 27,5%
Resultado em 2012: Romney 64,5%-Obama 32,6%
Resultado em 2008: McCain 61,5%-Obama 36,1%
Resultado em 2004: Bush 68,5%-Kerry 30,3%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 12 vitórias republicanas)
- O Idaho tem 1,8 milhões habitantes: 81,6% brancos, 12,8% hispânicos, 0,9% negros, 1,6% asiáticos; 49,9% mulheres
4 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Idaho (não há sondagens para este estado até ao momento) | O modelo preditivo da Economist dá mais de 99% de probabilidades de vitória Donald Trump no Idaho
*autor de quatro livros sobre presidências americanas