Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - A HISTÓRIA NUNCA TEM SÓ AVANÇOS. A eleição de Obama em 2008 foi momento histórico e concretizou-se em ambiente de euforia. A vontade de se avançar para agenda reformista e transformadora parecia fortemente maioritária. Estaria feita viragem na página do preconceito e da divisão. Ainda que os anos Obama tenham sido marcados por sucessos em áreas significativas (descida do desemprego para mínimos históricos, aposta nas renováveis e na independência energética, acesso a cuidados de saúde para 20 milhões de americanos, eliminação de Bin Laden, acordos com Irão e Cuba), na parte da "reconciliação" o primeiro presidente negro dos EUA falhou completamente. Os EUA do fim da era Obama têm mais tensões raciais, estão mais polarizados e muito menos "unidos". A forma crispada como decorreu a eleição presidencial de 2016 terá sido a estocada final na vontade de fazer consensos fundamentais num país tão diverso. Esqueçam o "Yes We Can" de Obama em 2008. 2016 foi o ano do "I Alone Can Fix It" (Eu, sozinho, posso resolver isso) de Trump. Como se isso fosse possível: o sistema americano está montado para ter no Presidente o pivot, com mais poder é certo, mas sempre dependente de uma complexa rede de garantias, suportes e verificações. Não era suposto que a América estivesse preparada para ter um presidente de características autoritárias e tirânicas. Mas, neste momento, tem.
2 - UM PROBLEMA SÉRIO DE REPRESENTATIVIDADE. O mais dramático é que apenas 45,9% dos 54% de americanos que foram às urnas em novembro de 2016 preferiram esta bizarra solução. E durante o mandato o apoio ao Presidente nunca chegou aos 50% (e só por uma vez atingiu os 49%, ficando quase sempre entre os 40 e pouco e os 30 e muitos). Hillary Clinton teve mais quase três milhões e meio de votos, graças a vantagens enormes nos grandes centros urbanos. Só que não segurou os votos que precisava onde mais precisava: no Midwest. América das contradições, sempre com essas duas faces. Jon Stewart notou, em entrevista à CBS: "O mesmo país, com todas as suas virtudes, falhas, forças, volatilidades, resiliência e inseguranças, existe hoje como existia antes da eleição de 2016. O mesmo país que elegeu Donald Trump elegeu Barack Obama. Sinto pena pelas pessoas que ficarão mais inseguras e vulneráveis". Barack Obama garantia, na noite da sua reeleição, que "nos Estados Unidos da América, o melhor está sempre para vir". Na presidência de Donald Trump temos tido sempre a necessidade de nos preparar para que da América possa vir o pior. A 3 de novembro saberemos a resposta para o grande teste: ou os americanos apenas se enganaram (acontece a qualquer um) ou, então, não acham grave ter na Casa Branca alguém que não é bem um Presidente.
UMA INTERROGAÇÃO: Vai Joe Biden segurar todos os estados ganhos por Hillary Clinton em 2016 ou poderá Trump sonhar com o triunfo em territórios como a Virgínia ou o Colorado?
UM ESTADO: Washington
Resultado em 2016: Hillary 54,3%-Trump 38,1%
Resultado em 2012: Obama 56,2%-Romney 41,3%
Resultado em 2008: Obama 57,7%-McCain 40,5%
Resultado em 2004: Kerry 50,2%-Bush 44,6%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 8 vitórias democratas, 4 republicanas - OS DEMOCRATAS GANHARAM AS 8 ÚLTIMAS)
- O estado de Washington (costa oeste) tem 7,7 milhões habitantes: 67,5% brancos, 13% hispânicos, 4,4% negros, 9,6% asiáticos; 49,9% mulheres
12 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Washington - Biden 62/Trump 28
(SurveyUSA 22-27 julho)
* autor de quatro livros sobre presidências americanas