Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - JÁ NEM OS REPUBLICANOS VÃO NA DEMAGOGIA TRUMPIANA. Pela primeira vez desde abril, são mais os americanos que estão "muito preocupados" com o coronavírus do que com "apenas um pouco preocupados" com a pandemia. Ora, isso só é possível atingindo parte da "base Trump". E isso explica a queda do Presidente nas sondagens (acentuadas nos meses de junho e parte de julho, com pequena recuperação nas últimas duas semanas). O foco de infeções no Oeste e no Sul - em estados como a Califórnia, o Arizona, o Texas ou a Florida - fez mudar a perceção de boa parte dos republicanos. São cada vez mais os eleitores Trump a optarem por "ficar em casa" e a seguirem as indicações de "restrições". A via trumpiana de negação e, depois, de "bully" em relação à estratégia responsável da equipa do dr. Fauci está a falhar completamente. Só 32% dos eleitores independentes e 9% dos eleitores democratas aprovam a gestão de Trump na pandemia. No eleitorado republicano esse valor está nos 77% - parece muito, mas é 15 a 20 pontos abaixo do que tinha sido o apoio dos eleitores republicanos à presidência Trump até ao coronavírus.
2 - O VERDADEIRO MISTÉRIO É QUE AINDA HAJA QUEM GOSTE DELE. Donald Trump, meio a brincar meio a sério, lançou há dias a queixa: "Não sei porque é que ninguém gosta de mim! Vejo aprovações altas ao dr. Fauci... O dr. Fauci é da minha equipa, estamos no mesmo barco." Não estão. Donald Trump perdeu pontos ao começar por negar o problema da pandemia. Perdeu pontos ao tratar de forma miserável os estados, sobretudo Nova Iorque, revelando ser um presidente de divisivo e não de União. Perdeu pontos ao desdenhar e chegar a gozar com quem usava máscara (já um pouco em desespero, virou agora de anti-máscara para pró-máscara). No país que tem cerca de um quarto dos casos e quase um terço das mortes da pandemia, foi repetindo sucessos inexistentes, numa quase inexplicável indiferença para com o sofrimento do povo que supostamente deveria representar. E não nos esqueçamos disto: já houve mais mortes Covid nos EUA do que a diferença entre Trump e Hillary naqueles três estados que decidiram a eleição de 2016. E como as mortes são, essencialmente, de pessoas de idade avançada (parte importante do eleitorado Trump), não é só na Economia que o Covid pode vir a ser influente na próxima eleição. Pode ser também numa questão numérica de votantes que deixam de poder repetir o voto em Trump de 2016 porque, simplesmente, morreram entretanto na pandemia. O grande mistério não é, como Donald lançou, que "ninguém goste dele". A questão é como que ainda há tanta gente que gosta.
UMA INTERROGAÇÃO: Vão os eleitores latinos, que deram enorme vantagem a Obama sobre Romney mas não tão grande diferença entre Hillary e Trump, ser decisivos num possível triunfo de Biden em estados como Nevada, Colorado ou Florida?
UM ESTADO: Nevada
Resultado em 2016: Hillary 47,9%-Trump 45,5%
Resultado em 2012: Obama 52,4%-Romney 45,7%
Resultado em 2008: Obama 55,1%-McCain 42,7%
Resultado em 2004: Bush 50,7%- Kerry 48,1%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 5 vitórias democratas, 7 republicanas - OS DEMOCRATAS GANHARAM AS 3 ÚLTIMAS)
- O Nevada tem 3,1 milhões habitantes: 48,2% brancos, 29,2% hispânicos, 10,3% negros, 8,7% asiáticos; 49,8% mulheres
6 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Nevada - Biden 47/Trump 40
(AtlasIntel 20-23 julho)
* autor de quatro livros sobre presidências americanas